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Falante, simpática e cantando com muita intensidade, Mísia encantou o público do Teatro do Bourbon Country na abertura do 21º Porto Alegre Em Cena, na quinta-feira (4/8).
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Canções de Caymmi, Cartola e Lupicínio tornaram-se fados na voz da musa portuguesa em sua terceira vinda à cidade. "Adriana Calcanhotto me pediu que fizesse essa tradução para a estética do fado", disse, depois de abrir o show São 3 com a pouco conhecida Cantiga, de Caymmi. Compartilhadas com três grandes instrumentistas - Sandro Costa (guitarra portuguesa), Daniel Pinto (violão) e Frederico Gato (violão baixo) -, as traduções ficaram perfeitas. "As músicas têm opiniões e é preciso ouvi-las, nem todas se entregaram facilmente a essa estética, mas, no fundo, estamos a falar dos mesmos sentimentos, o que ajuda bastante", comentou.
O roteiro é quase simétrico na repartição entre os compositores e os três tipos básicos de fado. São quatro músicas de Lupicínio: Nunca, Caixa de Ódio (cujo arranjo inclui um trecho instrumental do choro Brasileirinho), Loucura e Felicidade (aqui Mísia propôs ao público que cantasse junto, mas a maioria preferiu apenas ouvir). Quatro de Cartola: Sim, As Rosas Não Falam, Preciso me Encontrar e O Mundo É um Moinho. E três de Caymmi: além da já mencionada, Adeus e É Doce Morrer no Mar. Em vez da quarta do mestre baiano, ela incluiu Risque, de Ary Barroso. As mais aplaudidas foram Loucura ("Como é lindo isto", sublinhou, lembrando que a cantara juntamente com Bethânia em sua primeira vinda a Porto Alegre, em 2000) e É Doce Morrer no Mar, interpretada de forma especialmente intensa.
Aqui e ali Mísia citou frases de Florbela Espanca e da "insuperável" Amália Rodrigues, sua maior inspiração, de quem trouxe o clássico fado Lágrima para o bis. Demoradamente aplaudida, derramou-se em afagos no público, "adorei estar aqui com vocês, palco e plateia são como um espelho, sentimos tudo o que vocês nos passam, é coisa quase epidérmica, muito obrigada, estou muito feliz, gostaria muito de continuar este projeto, talvez com um disco, foi uma estreia mundial, humm?".
* Jornalista, crítico musical e colunista do 2º Caderno