Gustavo Brigatti
Embalados pelas boas críticas de seu mais recente trabalho, Nheengatu, os Titãs voltam a Porto Alegre nesta sexta-feira. A banda sobe ao palco do Opinião, às 21h desta sexta-feira, para mostrar as canções do novo disco e músicas pesadas (e menos conhecidas) de outros álbuns da carreira. Ainda há ingressos.
A promessa é de um show pesado e político, no mesmo formato que lotou o Circo Voador no início da turnê, no mês passado. De acordo com Sérgio Britto (voz, teclado e baixo), o espetáculo é bem dividido entre as faixas novas e as antigas.
- Começamos usando máscaras que lembram a maquiagem do clipe de Fardado e tocamos seis músicas do Nheengatu, como Canalha, República dos Bananas e Mensageiro da Desgraça. Assim, o pessoal assimila mais facilmente as novidades - explica. - Depois, visitamos nossos outros discos, focando no lado mais pesado deles, mesmo que não seja tão conhecido.
As baladas românticas, que marcaram a banda pós-Acústico MTV, ficarão de fora do show. A faixa mais leve do repertório, segundo Britto, deve ser o primeiro grande hit dos Titãs, Sonífera Ilha (1984).
- Daí vem Polícia, Desordem, 32 Dentes, Bichos Escrotos, entre outras. Não deixamos o ritmo cair, não - diz Britto.
Ele vem acompanhado de outros três remanescentes da formação original do grupo: Branco Mello (voz e baixo), Paulo Miklos (voz e guitarra) e Tony Bellotto (guitarra), além do músico convidado Mario Fabre (bateria). A formação enxuta, segundo Britto, foi decisiva na composição de Nheengatu:
- A turnê comemorativa do Cabeça Dinossauro deixou claro o que a gente sabe fazer bem, que são coisas simples, mas bem depuradas. E o disco marca esse novo momento nosso, em que nos reinventamos como banda.
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"Não temos discurso juvenil"
Zero Hora - Os Titãs estão com 32 anos de carreira, e vocês, todos na faixa dos 50 anos. Como é envelhecer no rock?
Sérgio Britto - O pessoal da música negra americana, especialmente os bluesmen, mantêm a mesma pegada furiosa na sonoridade e no discurso até o fim. Mas, no rock brasileiro, isso parece ser uma novidade, porque a tendência aqui é o sujeito ir fazendo algo cada vez mais calmo. A gente nunca viu dessa forma, e a prova está em Nheengatu, que não deve nada aos discos que fizemos quando éramos mais jovens. Diria até que, fora Cabeça Dinossauro (1986) e Titanomaquia (1993), é o álbum mais ácido que já fizemos. Não temos discurso juvenil. Não é a nossa onda fazer caricatura de adolescente.
Mas os adolescentes estão indo aos shows de vocês.
Nosso público é composto por quem acompanha a gente desde o começo, e tem 10, 15 anos a menos do que a gente, e por um pessoal mais novo que é atraído pelo tipo de som que fazemos. Na turnê comemorativa dos 25 anos do Cabeça Dinossauro, a gente notou que tinha uma outra geração na plateia, curiosa para ver aquele trabalho sendo tocado ao vivo, independentemente de estarmos no jornal ou no rádio.
Não estar mais tão presente na mídia incomoda vocês de alguma forma?
Incomoda no sentido de que a gente podia ter mais espaço. E, quando eu digo a gente, digo quem faz rock, como as centenas de bandas novas que estão por aí e não conseguem se divulgar. Os canais tradicionais estão fechados, e a internet é apenas uma ilusão de que você atinge um público amplo, quando, na verdade, você atinge apenas nichos. É preciso trabalhar também fora da internet, mas é complicado.
Essa falta de otimismo meio que transparece no disco.
A gente tem que ser otimista quase compulsoriamente para não perder a vontade de transformar as coisas, mas não dá para tapar o sol com a peneira. Tudo parece estar por ser feito ainda no Brasil, tanta coisa precisa ser corrigida que não dá para deixar de falar sobre isso. A própria capa do disco, a Torre de Babel, faz referência a isto, a essa necessidade de dialogar, de encontrar um meio de se comunicar numa única língua e nos fazermos entender para que as coisas melhores. Essa talvez seja a única saída.