Dizem as biografias que, desde pequena, Shonda Rhimes gostava de inventar histórias originais e subverter as existentes, coisas como transformar a Cinderela em uma princesa negra. O que mais tarde, e de certo modo, faria às ganhas, nas famosas séries que criou. Gordinha, Shonda não deve ter sido a mais popular das adolescentes no paraíso da Barbie. E, ainda no terreno das hipóteses, provavelmente tenha passado os sábados sem convite para festas, lendo, escrevendo e ralando na casa em que vivia com os pais e os cinco irmãos. Também foi voluntária em um hospital. A familiaridade com temas médicos não é coincidência.
Shonda estudou roteiro e, durante o tempo em que se viu sem perspectivas junto com uma multidão de roteiristas recém-formados, pagou os carnês dando expediente em agências de propaganda - além de assistir a muita TV. Talvez tenha percebido a carência de personagens femininas negras em busca de um lugar ao sol que não o de camareira ou diarista. O fato é que, depois de emplacar alguns filmes, apresentou para a rede ABC uma série de TV que se passava em um hospital fictício. Era 2003. Seja pelo gosto da população por dramas médicos, seja porque os dramas de "Grey's Anatomy" pareciam tão reais, a série nunca mais saiu do ar. E Shonda virou rainha na TV americana.
Nas noites de quinta da ABC, as mais nobres da semana, três séries dela são exibidas em sequência no espaço conhecido por ShondaLand. A terra de Shonda e de seus personagens exagerados e, ao mesmo tempo, humanos - mais ou menos como a gente é ou quer ser. Já pensou dar aquela virada de cabelo e sair rebolando como a Olivia Pope depois de humilhar o presidente dos EUA?
Ler, escrever, ralar, procurar o novo para um programa de TV. Para quem sonha em ser roteirista e não sabe por onde começar, a fórmula da Shonda Rhimes pode ser um bom começo. Se vier junto com talento, então, aí ninguém segura.