
Prince virou as costas para a indústria fonográfica no tempo em que o suporte de uma grande gravadora ainda era algo relevante. Isso em meados dos anos 1990, quando, entre outras excentricidades, abdicou do próprio nome e entrou numa era de voluntária reclusão midiática. Mas ele, que um dia só teve como rival no olimpo da música pop nomes como Madonna e Michael Jackson, jamais baixou a crista. Enfurnado em seu estúdio, lançou discos regularmente, com maior e menor repercussão, e seguiu faturando milhões com suas turnês.
Quatro anos após o álbum 20Ten, Prince está de volta em dose dupla. Reatou com Warner, selo com o qual havia rompido ruidosamente em 1996, e apresenta dois álbuns simultâneos. Art Official Age é um genuíno disco de Prince (seu 33º). Aos 56 anos, o artista que já quis ter como identidade apenas um símbolo, passa em revista o DNA musical herdado de James Brown e Jimi Hendrix (uma das melhores faixas chama-se, não por acaso, Funkroll).
Seus admiradores e imitadores podem usar as 12 faixas do disco como modelos de composição e produção. Prince mostra-se o velho senhor das pistas em Art Official Cage e The Gold Standard, apresenta as belas baladas Breakdown e Time e relembra aquela rica fusão de escolas da música negra que consagrou nos anos 1980 em U Know e Could Be Us.
Já no disco Plectrumelectrum o bicho pega, com Prince dividindo as 13 faixas (Funkroll repete-se em outra pegada) com o trio feminino 3rdeyegirl: Donna Grantis (guitarra), Hannah Ford Welton (bateria) e Ida Nielsen (baixo). O destaque é a harmônica combinação das guitarras pesadas com a quebradeira suingada característica do músico virtuose. Wow, na abertura, coloca-se entre as melhores canções que Prince já fez, o que não é coisa pouca. Na faixa-título, um justo tributo ao Led Zeppelin.
Plectrumelectrum é um disco que parece ser superior a Art Official Age por mostrar Prince navegando em uma praia pouco usual. Mas é no conjunto desse dois novos trabalhos, a serem ouvidos como um ótimo álbum duplo, que seu talento se mostra revigorado. No peso ou no balanço, o baixinho prova que não perdeu nada do rebolado e da mão de hitmaker.
Uma amostra de como é o palco com Prince e suas três garotas.