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Coluna

Juarez Fonseca: Porto Alegre tem mais de 20 músicos de jazz em atividade

O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno

Francisco Marshall / Divulgação
Marmota Jazz é uma das bandas da efervescente cena jazzística da Capital

Os músicos de jazz de Porto Alegre não são tão organizados quanto o pessoal do blues, que há anos tem sua Confraria. Mas, a julgar pela movimentação mais ou menos recente, podem chegar lá: a cidade nunca teve tantas casas noturnas com jazz ao vivo. O POA Jazz Festival, mais bem produzida iniciativa do gênero já feita aqui e que se realiza até amanhã no BarraShopping, é um pouco consequência desse novo panorama. Mas muito tempo passou desde que a capital gaúcha teve uma cena jazzística com certo relevo, pautada por bares como a Sala Jazz Tom Jobim, o Lugar Comum e o Alambique's, nos anos 1980. A única entidade que atravessou esse tempo foi o Clube de Jazz Take Five, movido pela dedicação da pianista Ivone Pacheco e hoje praticamente inativo.

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Num levantamento não muito aprofundado, cheguei a mais de 20 grupos e músicos autorais que atuam na cidade tocando jazz e música instrumental com estrutura jazzy. Marmota Jazz, Delicatessen, Jazz Tantã, Luizinho Santos Quarteto, Jazz 6, Quarto Sensorial, Dziw Jazz, The Brothers Orchestra, Jazz Marmontel, Fool Jazz, Edu Martins Trio, JazzGig, Antônio Flores Quarteto, Cristian Sperandir Trio, Paulo Dorfman (homenageado do festival), Cláudio Sander, James Liberato, Márcio Filomena, Mila Pulita, Paulinho Fagundes, New, Michel Dorfman, Chumbinho Herrlein. Óbvio que estes grupos e autores reúnem muitos músicos, e então a coisa se multiplica. Só a Brothers Orchestra, que anima as segundas-feiras do In Sano Pub, tem 19 integrantes liderados pelo trompetista Anjinho Prinz.

São músicos de distintas gerações e formações, os veteranos sendo também professores, como o pianista Paulo Dorfman, os guitarristas James Liberato e Chumbinho; os jovens agregando ao currículo estudos em instituições como a célebre Berklee College of Music, casos do guitarrista Filomena e dos integrantes do Marmota Jazz - André Mendonça, Leonardo Bittencourt e Pedro Moser. Nos grupos há nomes bem conhecidos, como Ana Krüger (a voz do Delicatessen) e Luis Fernando Verissimo (o sax do Jazz 6). São apenas exemplos de uma cena diversificada e rica em experiências, que tem tudo para aglutinar mais gente. Entre os músicos jovens, é visível o surgimento de lideranças, e redes sociais como o Facebook passam isso para um novo público.

Ainda não há um espaço exclusivo para o jazz, embora o Café Fon Fon (9308-0285), de Luizinho Santos e Bethy Krieger, aproxime-se bastante da ideia. Estes locais têm shows periódicos: Camará Botequim (3084-5861), Bar Odeon (3224-5752), Capone Drinkeria (3372-6021), Clube Silêncio (9251-1525), StudioClio (3254-7200), In Sano (3286-6940), Espaço 512 (3212-0229), Parangolé (3224-0560), restaurante Lorita (3264-6000) e o London Pub (8233-7037), que durante esta semana foi uma extensão do POA Jazz Festival. A Cidade Baixa concentra a maioria. Porto Alegre tem uma antiga tradição jazzística que agora vem sendo retomada com sangue novo. Espero que se solidifique, resultando em mais discos produzidos e plateias que estimulem a vinda de shows internacionais, como nos anos 1970 e 80.

Quero homenagear dois caras que há anos mantêm a chama: Paulo Moreira, com seu Sessão Jazz na FM Cultura, e Günter Kleemann, com A Hora do Jazz na Rádio da Universidade.

Antena

Pascoal Meirelles - "50"

De Tom Jobim a Chico Buarque, Gonzaguinha, Elis e Edu Lobo, o baterista Pascoal Meirelles tocou com a nata da MPB e, paralelamente, se dedicou a um notável trabalho na música instrumental, com 19 álbuns lançados - cinco deles com o grupo Cama de Gato, do qual foi um dos fundadores. Para comemorar os 70 anos de idade e 50 de carreira, ele selecionou 12 músicas desses discos, remasterizou-as e as reúne no CD "50". O resultado é uma síntese que impressiona pela qualidade e o vigor musical. Nos arranjos para trio, quarteto, sexteto e orquestra, brilha um dream team: Paulo Moura, Mauro Senise, Jota Moraes, Victor Biglione, Wagner Tiso, Leo Gandelman, Márcio Montarroyos, Helvius Villela, Zé Nogueira, Jamil Joanes, Osmar Milito, Ary Piassarollo e, entre outros, Nivaldo Ornelas, uma das atrações de amanhã do POA Jazz Festival. Para comprar o CD, a R$ 25, www.facebook.com/pascoalmeirelles.

Zéli Silva - Una

Destacado contrabaixista paulistano, depois de atuar 15 anos no grupo instrumental Terra Brasil (com o qual gravou cinco discos), e atuar com Edgar Scandurra, Cida Moreira, Rosa Passos e Badi Assad, Zéli Silva vem desde 2002 investindo na carreira solo. Mas solo é modo de dizer, pois está sempre bem acompanhado. Além de sua afiada banda, que inclui o baterista Edu Ribeiro (integra o Trio Corrente, que tocaria ontem com Paquito D'Rivera no POA Jazz Festival), este quarto álbum tem convidados de luxo, como João Donato e Arismar do Espírito Santo, ambos homenageados, as flautas de Da Do e Léa Freire, e a cantora Tatiana Parra com seus belos vocalizes. O espírito do jazz está em todas as faixas, engravidando vários sambas, um ijexá e até uma chacarera. Zéli é autor e arranjador de todas, menos uma, Jongo de Compadre, de Guinga e Aldir Blanc. CD independente, distribuição Tratore, R$ 25.

Da Do - Zanzando

Zéli Silva é o baixista do grupo do saxofonista/clarinetista/flautista Da Do, igualmente paulistano, neste quinto disco. Embora ele também seja um jazzista, formado nos EUA (onde viveu de 1998 a 2003), sua música instrumental tem um caráter fortemente brasileiro, pois sempre estudou muito o choro e sua linguagem de improvisação. Sem contar que, entre outros, tem tocado samba com Paulinho da Viola e o baterista de seu quinteto seja João Parahyba, ex-Trio Mocotó. Marcado pelo ótimo piano rítmico de Sílvia Goes, um samba abre o CD. Depois vem um choro nos moldes de Radamés Gnattali. Mais adiante, um samba de câmara, com orquestra de cordas, seguido por outro choro, este com tempero de Ernesto Nazareth. Tem ainda samba de gafieira, samba-jazz e até um dançante fox-choro. Autor e arranjador de todos os temas, Da Do é ainda um grande melodista. CD Independente, distribuição Tratore, R$ 25.

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