
Nelson Motta comemora 70 anos no dia 29 de outubro, e é ele próprio quem entrega presentes. Está lançando um livro, As Sete Vidas de Nelson Motta, em que combina crônicas publicadas desde os anos 1960 com textos atuais e um disco, Nelson 70, com releituras de seus grandes sucessos. Ele tem ainda programas de TV mostrando os bastidores da produção do álbum e dois novos musicais a caminho dos palcos.
Confira cinco livros e cinco canções para (re)descobrir Nelson Motta
Novo livro

1) Nelson Motta, 2) Jandira Negrão de Lima, 3) Vinicius de Moraes, 4) Linda Batista, 5) Chico Buarque, 6) Luiz Bonfá, 7) Braguinha, 8) Tuca, 9) A mulher do cachorrinho, 10) Zé Keti, 11) Sidney Miller, 12) Dori Caymmi, 13) Paulinho da Viola, 14) João Araújo, 15) Capinam, 16) Caetano Veloso, 17) Torquato Neto, 18) Tom Jobim, 19) Edu Lobo, 20) Lenita Plonczynski, 21) Olívia Hime, 22) Helena Gastal, 23) Francis Hime, 24) Luiz Eça
A foto em preto em branco (acima) foi tirada em setembro de 1967. Cercado por artistas consagrados da música brasileira (como Braguinha, Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e jovens como ele que começavam a fazer história (Chico Buarque e Caetano Veloso, entre outros), Nelson Motta, aos 22 anos, estava ali como repórter do Jornal do Brasil, para acompanhar a reunião que planejava uma campanha de renovação do repertório de canções carnavalescas. Motta já exercia o duplo ofício que marcaria sua trajetória: era também um aspirante a compositor apadrinhado por Vinicius e tinha como parceiro Dori Caymmi - a dupla havia vencido no ano anterior o Festival Internacional da Canção (FIC) com a canção Saveiros.
Os bastidores desse antológico registro abrem As Sete Vidas de Nelson Motta, projeto biográfico distinto daquele que o autor apresentou em Noites Tropicais (2000).
- Este projeto partiu da Isa Pessoa, editora de 10 livros meus. A ideia foi transformar meus 50 anos de jornalismo em um híbrido, juntando material que estava em uma pasta de recortes que minha mãe tinha, com todas as minhas colunas. Fui escrevendo novos textos para costurar essas crônicas, que nunca mais tinha visto, criando um só fluxo, o que torna a leitura muito agradável - diz Motta, em entrevista a ZH.
O livro destaca perfis de grandes nomes da MPB ainda em ascensão, cartas que Motta recebeu de Vinicius, Caetano Veloso e Helio Oiticica e recupera impressões, no calor do momento, de shows históricos e passeios de Mick Jagger pelo Rio.
- Eu era muito próximo desse pessoal, e as crônicas refletem o clima de companheirismo que existia. Uma carta do Vinicius (enviada de Paris, em 1969) diz muito sobre ele: estava duro, tinha sido expulso do Itamaraty, mas fala de como pode ajudar amigos com uma grana que está por receber.
Coletânea de releituras
As 14 faixas do disco Nelson 70 destacam parcerias de Nelson Motta, como letrista, de 1967 a 2014 (veja abaixo).
- Minha participação se deu na escolha das músicas e dos intérpretes. A ideia foi pegar canções mais conhecidas e umas "lado B". Mas minha ingerência no que cada um fez foi zero - explica Motta.
Segundo ele, a escolha que mais lhe desafiou foi Como uma Onda, sucesso de 1982 que fez com o então iniciante Lulu Santos para o filme Garota Dourada.
- Depois de ser gravada por Lulu, Tim Maia, Roberto Carlos, Caetano, Simone, o que fazer com Como um Onda? Aí pensei no Jorge Drexler, que tinha me pedido para escrever a apresentação do maravilhoso disco novo dele. Ele podia fazer algo diferente com aquele sotaque. E deu certo. O Jorge brinca dizendo que fez "Como uma milonga". O Lulu ficou emocionadíssimo quando ouviu.
Motta também chama a atenção para a faixa Noturno Carioca, parceira com Erasmos Carlos, cantada por Laila Garin:
- Quem viu Laila como Elis Regina no musical vai ter uma surpresa. É um outro registro, mais jazzy, cool, perfeito para fechar o disco.
Nelson 70 traz uma faixa inédita: Nós e o Tempo, dele em parceria com Marisa Monte e César Mendes, que a cantora apresenta na companhia de João Donato
- Convidei a Marisa, e ela veio com essa música. E, modestamente, que música! É bom para mostrar que o velho está positivo e operante. Esse é o meu trabalho hoje.
Confira as 14 faixas de Nelson 70 (Som Livre, R$ 24,90), que celebra as parcerias musicais de Nelson Motta:
Certas Coisas (com Lulu Santos), por Lenine com participação de Cristina Braga
Coisas do Brasil (com Guilherme Arantes), por Ed Motta com participação de Daniel Jobim
Nós e o Tempo (com Marisa Monte e César Mendes), por Marisa e João Donato
Como uma Onda (com Lulu Santos), por Jorge Drexler
Apaixonada (com Ed Motta), por Cuca Roseta
De Repente California (com Lulu Santos), por Céu
DancinDays (com Ruban Barra), por Gaby Amarantos
Perigosa (com Rita Lee e Roberto de Carvalho), por Ana Cañas
Areias Escaldantes (com Lulu Santos), por Max de Castro
Você Bem Sabe (com Djavan), por Maria Gadú
Ditos e Feitos (com Roberto Menescal ), por Leo Cavalcanti
De Onde Vens (com Dori Caymmi), por Fernanda Takai
Marina no Ar (com Guilherme Arantes), por Silva
Noturno Carioca (com Erasmo Carlos), por Laila Garin
Série no Canal Brasil
Foto: Canal Brasil/ Divulgação

No dia de seu aniversário de 70 anos, na quarta (29), às 20h30min, Nelson Motta estreia no Canal Brasil uma série de oito programas semanais apresentando os bastidores da gravação do disco Nelson 70.
- Era para ser apenas um documentário de uma hora. Mas ficou tão bom que decidiram fazer oito - afirma Motta.
Cada programa tem 25 minutos de duração. Entre os registros, estão a viagem dele ao Uruguai para acompanhar a versão de Jorge Drexler para o hit Como uma Onda.
- Eu ficava até constrangido quando ele me consultava se podia fazer isso ou aquilo. Eu dizia: "Faz o que vocês quiser, pô!".
Também foi emblemático seu reencontro com Marisa Monte.
- Acabamos virando novamente parceiros 25 anos depois de eu ter produzido o primeiro disco dela.
Também são destacados momentos como o sucesso de Dancin Days, a explosão do rock nacional nos anos 1980.
Mais musicais
Em janeiro de 2015, estreia Simbora - A História de Wilson Simonal, nova incursão de Nelson Motta no filão dos musicais biográficos, que já lhe rendeu grande sucessos no palco com Tim Maia e Elis Regina.
- O Simonal já tem um excelente livro biográfico, de Ricardo Alexandre, e um belo documentário. Além das grandes músicas, tem carga dramática incrível de um personagem que foi do céu ao inferno, uma densidade dramática maior do que a das historias do Tim e da Elis.
Motta também prepara um musical ambientado em 1967, que tem como clímax a encenação da final do Festival da Record, disputada por nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Edu Lobo.