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Não bastava ter um nome que soa estranho em português, cantar em inglês e trabalhar uma música de produção caprichadíssima e calcada no indie rock dos anos 2000. A Wannabe Jalva mirou ainda mais além do cenário brasileiro lançando singles por sites gringos e, a partir da próxima semana, engatando uma turnê pelos EUA.
Formada em Porto Alegre por Felipe Puperi, Rafael Rocha e Tiago Abrahão (que se revezam nas guitarras, no baixo e nos vocais) e Fernando Paulista (bateria e percussão), a Wannabe Jalva é uma novata com ficha de veterana. Desde que lançou suas primeiras músicas, em 2010 ("Meio que sem querer, sem muita pretensão", garante Rocha), a banda abriu o show do Pearl Jam, dividiu palco com os indies do Cut Copy em 2011, na Capital, tocou com Two Door Cinema Club e Vampire Weekend no MECA Festival, no verão de 2012, e reforçou o time brasileiro no Lollapalooza Brasil do ano passado.
Depois do Lolla, eles decidiram fechar a agenda e se dedicar à gravação de novas músicas. Transformaram o porão da casa dos pais de Rocha em um estúdio e deram início aos experimentos. No começo deste ano, com cinco canções finalizadas no estúdio de Abrahão, começaram a negociar o lançamento das faixas (em formato de singles) com sites gringos respeitáveis, como Entertainment Weekly, T Magazine (do jornal The New York Times) e Stereogum. O EP, Collecture, está disponível a partir desta quarta-feira, no iTunes.
A exposição internacional ajudou a Wannabe Jalva a fechar uma série de shows no CMJ Music Marathon, que começa na segunda-feira, em Nova York. Com um pé nos EUA, o quarteto aproveitou para, no mesmo esquema faça-você-mesmo, marcar apresentações em cinco outras cidades americanas - e ampliar ainda mais seu networking.
- Conseguimos fazer isso tudo daqui, mas queremos arrumar contatos por lá para que essa não seja apenas uma turnê - diz Puperi.
No que depender da crítica americana, o quarteto gaúcho está bem posicionado. O jornalista Miles Raymer, da Entertainment Weekly, coloca os Jalva no mesmo balaio que Strokes, Mutantes e Pink Floyd. Maggie Stamets, do Stereogum, aponta o "sentimento celestial" que a música da banda proporciona. O grupo, no entanto, preza pela cautela.
- Desde o início, pensamos que podíamos ir além do mercado brasileiro, mas não apenas por cantarmos em inglês e pelo tipo de música que a gente faz - explica Rocha. - Nosso som é resultado das nossas influências. Nada impede que, de repente, a gente faça músicas em espanhol ou francês, se isso soar bem.
Rock espacial
Para quem acompanha música com algum interesse e afinco, as influências da música trabalhada pela Wannabe Jalva são cristalinas. Estão lá a verve indie, de guitarras limpas e nervosas, os timbres urgentes e o vocal se sobrepondo a tudo. É indie rock safra 2000, claro. Mas, a exemplo de seu trabalho de estreia, Welcome to Jalva (2011), o quarteto gaúcho joga um tempero extra em Collecture.
Desta vez, as cinco faixas do EP ecoam um certo space rock grandiloquente, às vezes épico (caso de Melt, uma viagem torta, de bateria quebrada e guitarras espaçadas), às vezes acelerado (Mainline, single de espírito surf music).
Miracle, apesar de apostar nas guitarras como guias, mostra-se quase blasé, com o vocal de Rafael Rocha muito próximo ao de Billy Corgan na fase mais sombria (e ácida) do Smashing Pumpkins. Down the Sea, possivelmente a melhor faixa de Collecture, vai para os lados de Arctic Monkeys, com sessões distintas e criativas e vocal menos cantado e mais declamado.
Colocada no meio do EP, One Way Street joga todas as suas fichas em acordes etéreos, quase soporíferos, acelerando no minuto final para um turbilhão de efeitos.
Ao final, Collecture é um excelente segundo passo para os Jalva.