
O Rodrigo Amarante que subirá ao palco do Araújo Vianna na noite desta quarta-feira jura que é o mesmo do tempo de Los Hermanos - apenas contando suas histórias de uma maneira diferente. Após apresentar pelo mundo, ao longo do último ano, seu Cavalo (2013) - disco assim nomeado em alusão à umbanda e ao candomblé, ao médium que recebe o espírito -, o músico volta com o álbum elogiado dentro e fora do Brasil. Com esse seu primeiro trabalho solo, Amarante alcançou, na cena independente internacional, uma visibilidade conquistada por poucos artistas brasileiros. E isso chega na sequência da experiência anterior com o grupo estrangeiro Little Joy e do exílio autoimposto em Los Angeles, onde vive desde 2007.
Cavalo foi descrito como o "álbum mais terno de 2014" pela NPR, rádio pública dos EUA e queridinha dos antenados em música de todo o planeta. Amarante ocupa outros espaços cobiçados por músicos internacionais, como o Take Away Show do canal francês La Blogothèque (em que, por alguns preciosos minutos, o carioca emula Bob Dylan) e o pocket show da rádio americana KEXP, baseada em Seattle. Agora, volta ao Brasil e aos questionamentos de "você vai tocar Los Hermanos?", que responde com graça:
- Vou tocar o meu disco inteiro, músicas novas, músicas de outros projetos e ainda músicas que não escrevi. Em suma, tudo. Mas, melhor do que saber isso, é ir ao show imaginando o que eu vou tocar ao invés de chegar sabendo, não acha? Por isso, garanto: mudo de ideia o tempo todo.
Depois de um itinerário entrecruzado (a estreia da turnê de Cavalo foi em São Paulo, passando depois por Fortaleza, Maceió e Recife antes de chegar a Porto Alegre, voltar para São Paulo e seguir para o Rio de Janeiro), ele encara o retorno à capital gaúcha sem expectativas, místico e enigmático como o disco que tocará esta noite:
- Fiz bons amigos em Porto Alegre. Tenho memórias de dias e noites incríveis com gente interessante. Mas não sou de fazer previsões ou criar expectativas. Vou para descobrir quem é que ouviu meu disco e gostou. Espero conhecer essa gente, reconhecer os que vieram da primeira vez, ver quem me dá essa chance. O futuro ainda vai ser.
SERVIÇO - Rodrigo Amarante
Nesta quarta-feira, às 21h. Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685). Ingressos a R$ 40 (plateia alta lateral), R$ 70 (plateia alta central) e R$ 100 (plateia baixa lateral e central). Desconto de 10% para Clube do Assinante ZH.
Entrevista: "São canções sobre identidade"
Zero Hora - No disco Cavalo, você aborda a questão do "ser/sentir-se estrangeiro". Como está sendo este retorno para shows que apresentará no Brasil?
Rodrigo Amarante - Na carta de apresentação do disco, falei sobre quando voltei à minha cidade natal. Percebi que muito dela era uma invenção gerada pela distância e pela memória, que é viva. E que isso me libertou, porque me deu a noção de que não tinha mais terra natal, porque nem eu a reconhecia nem ela a mim, já que meu sotaque havia sido transformado pelas tantas mudanças. Essa ideia, se tem alguma riqueza, não tem nada a ver em particular com o Rio de Janeiro ou o Brasil. Também não é uma ideia original minha. É uma experiência universal, um tema recorrente e amplo que me toca. Por isso, esse tema me moveu a escrever sobre ele no disco. São canções sobre identidade, porque é meu primeiro disco solo, o que é um exercício de busca e de questionamento.
ZH - Você tem feito muito sucesso no cenário independente internacional, gravando para o La Blogothèque e para a KEXP. Como você vê este momento?
Amarante - Gravei para o Blogothèque nas duas semanas em que fiz divulgação de imprensa na França, que foi o país onde mais dei entrevistas com esse disco. Não estava nem planejado. A gente tinha pouco tempo, porque eu encaixei aquilo entre outras coisas da agenda. Então, eles prenderam os microfones em mim e disseram, vai! Aí, eu saí andando pela rua e tocando. Foi assim, um take. Já o lance da rádio KEXP, da NPR (Rádio Pública Nacional dos EUA), foi um apoio ao meu disco, o que me deixou muito grato. É a mais respeitada rede de rádio de lá porque tem curadoria independente, já que não tem anúncio e é financiada pelos ouvintes em cada cidade. Toda essa atenção que tive e tenho tido fora do Brasil com o meu disco é mesmo surpreendente, um grande incentivo para continuar escrevendo.