
O novo filme de Carolina Jabor é quase todo ambientado dentro de uma clínica psiquiátrica, onde convivem doentes mentais, desequilibrados emocionais e drogaditos. Boa Sorte poderia limitar-se a contar uma história sobre marginalizados que lutam contra demônios internos, tentando uma segunda chance, com um registro oscilando entre a comiseração e a condenação dos personagens. Felizmente, o longa escapa a maniqueísmos e soluções narrativas fáceis: a "casa de repouso" na qual o adolescente João (João Pedro Zappa) conhece a bela e problemática Judite (Deborah Secco) não é um lugar muito diferente do mundo que está do lado de fora, enquanto os protagonistas não são moralmente julgados nem sentimentalmente vitimizados.
Sem alarde, Boa Sorte anuncia desde as primeiras cenas que a trama não é exatamente sobre desajuste, mas quase o inverso disso: o que levou o casal principal ao abuso de drogas e remédios talvez tenha sido justamente a tentativa angustiada de adequar-se à realidade ao redor - uma família indiferente e sonambúlica no caso de João, uma congênere ausência de afeto doméstico no de Judite.
Como em Frontal com Fanta, história de Jorge Furtado que originou o filme, o tom de Boa Sorte é mais melancólico do que sombrio - diferentemente, por exemplo, de Bicho de Sete Cabeças (2001), drama de Laís Bodanzky sobre um tema semelhante. Merecem destaque as atuações do elenco - em especial do novato João Pedro Zappa e, principalmente, de Deborah Secco, que emprestam credibilidade a esse casal ajustado demais.
BOA SORTE
De Carolina Jabor
Drama, Brasil, 2014. Duração: 89 minutos.
Estreia nesta quinta, no Arcoplex Rua da Praia, no Cinemark Ipiranga, no Cinespaço Wallig e no Espaço Itaú
Cotação: bom
* Segundo Caderno
Veja o trailer de Boa Sorte: