O pianista mineiro Nelson Freire é um caso raro de brasileiro incluído no primeiro time da música de concerto internacional. Garoto-prodígio nascido na cidade de Boa Esperança, ganhou o mundo ainda na juventude, tendo sido chamado pela revista Time de "um dos pianistas mais empolgantes desta ou de qualquer era".
Com um temperamento reservado, Freire não é muito dado aos holofotes, como mostrou o sensível documentário que leva seu nome, dirigido por João Moreira Salles em 2003 - o que não o impediu de se tornar uma sensação nas principais salas de concerto pelo mundo.
Confira os álbuns que marcam os 70 anos do pianista Nelson Freire
Aos 70 anos, completados no dia 8 de outubro, o músico lançará, em janeiro, um disco com o Concerto para Piano nº 2, de Chopin, obra com a qual está excursionando pelo mundo. Será o destaque da apresentação que ele realiza nesta terça, às 20h30min, no Salão de Atos da UFRGS (com ingressos esgotados), acompanhado da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), regida pelo maestro sul-coreano Shinik Hahm.
A segunda parte do programa, que integra as celebrações dos 80 anos da UFRGS, terá a Sinfonia nº 6, de Tchaikovsky. Freire, que fez sua primeira apresentação com a Ospa em 1969, respondeu às perguntas de Zero Hora durante sua turnê pela Europa.
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Confira:
ZH - O senhor está em turnê mundial executando o Concerto para Piano nº 2, de Chopin, que será lançado em disco em janeiro de 2015. O senhor é um conhecido especialista no repertório da música romântica. Por que decidiu se debruçar sobre esse período da música? Por que o romantismo o encanta tanto?
Freire - Meu primeiro disco, com 12 para 13 anos, foi de Chopin. Mas, antes disso, sempre estive com Chopin: acredito que a primeira vez em que fui ao cinema, em Boa Esperança, foi para ver À Noite Sonhamos (1945), filme sobre a vida do compositor. Acho que o Arthur Rubinstein definiu muito bem: a música de Chopin vai direto ao coração das pessoas.
ZH - Por quê?
Freire - Ela pode ser apreciada por qualquer tipo de público: desde o leigo até o musicólogo. A música dele todo mundo sente e gosta. O segundo concerto de Chopin é um dos meus preferidos.
ZH - Quais foram os maestros que mais o impressionaram, entre os que já trabalharam com o senhor? Por quê?
Freire - Minha química com o russo Valery Gergiev é muito boa. Ele não gosta de ensaio, eu também não, mas com ele a coisa funciona. Como eu, ele quer preservar a espontaneidade e o frescor da performance. Entre os brasileiros, Eleazar de Carvalho (1912 - 1996), que tinha uma energia especial. Conheci-o no concurso da Orquestra Sinfônica Brasileira de 1957. Era um domingo de manhã, pedi um autógrafo para ele.
