Festival de artes cênicas criado há 16 anos, o Porto Verão Alegre tem mudado paulatinamente a proposta inicial de congregar espetáculos de comédia de longa trajetória nos palcos gaúchos para dar cada vez mais espaço a produções apuradas em termos de pesquisa de linguagem. A edição que começa nesta sexta-feira (9/1) e vai até 12 de fevereiro (venda antecipada de ingressos a partir desta segunda-feira, 5/1) consolida esta guinada, na opinião do ator Zé Victor Castiel, um dos organizadores do evento ao lado de Rogério Beretta.
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- Há um tempo de maturação para a formação de plateia. Primeiro, colocamos na programação atores que os espectadores já haviam visto na televisão. Depois que eles gostaram de ir ao teatro, estamos fazendo ofertas de produções menos digeríveis facilmente. Esta é a hora - diz Castiel.
Neste ano, pela primeira vez o festival financiou a produção de um espetáculo. Convidado pelos organizadores, o diretor Néstor Monasterio escolheu criar uma nova montagem de Romeu & Julieta, o clássico de Shakespeare. A produção da peça recebeu um patrocínio de R$ 60 mil do festival. Para 2016, os organizadores do Porto Verão cogitam criar uma comissão para escolher o projeto de uma nova montagem.
- Esse valor é o que costumávamos gastar com coquetel e evento de abertura em edições anteriores do festival. Estamos trocando rango por cultura. É mais perene - explica Castiel.
Esta edição teve autorização do Ministério da Cultura (MinC) para captar R$ 2 milhões pela Lei Rouanet e conseguiu até agora R$ 1 milhão, valor semelhante à média dos últimos anos. Segundo Castiel, a diminuição no número de espetáculos em relação a 2014 (de 63 para 43 títulos) não foi por motivos financeiros: teve a ver com uma redistribuição de salas de espetáculo, já que no ano passado algumas sessões chegaram a ser canceladas por problemas com ar-condicionado.
- Fomos buscar espaços novos que estão em absoluta condição, como o Centro Histórico-Cultural Santa Casa e o Instituto Ling. Abrimos mão de utilizar salas que precisam de reparo - afirma o organizador.
Tragédia popular
Montar Shakespeare é fácil: difícil é montar texto ruim. Com essa brincadeira, o diretor Néstor Monasterio anuncia sua versão de Romeu & Julieta, que estreia em sessão fechada nesta quinta-feira (8/1) e depois entra em cartaz na programação do Porto Verão Alegre de 3 a 8 de fevereiro. Conhecido por ter encenado, nos últimos anos, comédias como Homens de Perto (1 e 2) e Inimigas Íntimas, Monasterio retoma a densidade que havia demonstrado em espetáculos anteriores. Mas garante que seu Romeu & Julieta não será hermético. Ele quer fazer valer a popularidade da trama. Por isso, momentos de poesia serão costurados com trechos em prosa, favorecendo a fluidez dos diálogos.
- Boa parte do nosso trabalho foi em busca do entendimento real das cenas. Qual o motivo de Shakespeare criar determinada sequência? A que ele estava se referindo? E qual sua motivação histórica? - enumera o diretor da produção.
Monasterio observa que a interpretação dos atores é realista, mas que a montagem se vale de outros recursos, como troca de personagens em cena e falas dirigidas diretamente ao público. A trilha sonora é cantada e tocada pelos próprios atores. Aline Jones e Emílio Farias interpretam os papéis do título. Completam o elenco Áurea Baptista, Evandro Soldatelli, Fabrizio Gorziza, Fernando Waschburger, Heloisa Palaoro, Léo Ferlauto e Lucas Krug.
