Gustavo Brigatti
Jack White passou a última década e meia experimentando. Foi do rock garageiro ao noise, passando pelo blues, o folk e o country. De Led Zeppelin a Johnny Cash, de Elvis a Sonic Youth. Na noite desta terça-feira, Porto Alegre presenciou o resultado de toda essa mistura. Uma mistura, no mínimo, vencedora.
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A exemplo de seus ídolos, White é um devoto de sua arte e quer atenção total para ela. Minutos antes do espetáculo, um dos roadies vestidos de amish pede para que nenhuma das cerca de 4,5 mil pessoas presentes no Pepsi On Stage filme ou fotografe o show. A razão é óbvia, mas ele desenha no ar, apontando para o palco: por que ver por uma tela minúscula o que pode ser apreciado em todo o seu tamanho?
Inacreditavelmente, durante as duas horas em que White e sua banda debulham seus instrumentos, raríssimos celulares são vistos erguidos sob a multidão. Pudera: na maior parte do tempo, o público permanece hipnotizado, acompanhando cada movimento dos músicos e absorvendo, de fato, o excelente trabalho que o menino de ouro de Detroit veio apresentar.
Como se brigassem pela alma de White, violão e guitarra são alternados entre as canções, que variam entre faixas dos White Stripes, dos Raconteurs e dos dois discos solos do músico. Quando intepreta músicas de sua primeira banda - como Dead Leaves and the Dirty Ground e Hotel Yorba - faz pensar em como conseguia tirar tanto barulho com uma formação tão enxuta - era ele a baterista Meg White apenas. A resposta está, principalmente, do lado esquerdo do palco, com o também baterista Daru Jones: com um kit de bateria mínimo, consegue extrair tanto volume e chamar tanta atenção quanto o próprio dono da festa.
Tira o máximo do mínimo parece ser o segredo de Jack White. Ele venera a antiguidade do rock não apenas pelas sua pureza, mas pela sua simplicidade. Seu show é um espetáculo de rock'n'roll antigo - daí monocromático, com zero pirotecnia e músicos vestidos como se estivessem em 1950 (sem falar na proibição de filmar e fotografar).
Junto da cozinha - que conta ainda com o baixista Dominic Davis -, White celebra o melhor de sua carreira. Além dos White Stripes, relembra os Raconteurs em pelo menos três momentos: Top Yourself, Steady, As She Goes e Broken Boy Soldier, todas igualmente bem recebidas pelo público. De trabalhos que levam seu nome, toca, entre outras, Lazaretto, Love Interruption, Would You Fight For My Love? e That Black Bat Licorice.
Tudo sem jamais afinar seus instrumentos ou fazer pausas, transformando o show em uma grande jam de uma música só. Uma música que representa o auge de uma carreira singular, de um artista destemido e em constante transformação. Fechou com o último grande riff do rock: Seven Nation Army, no maior coro de "ôôôôô" que Porto Alegre já viu.