
Depois de mais de três décadas dedicadas a formar e qualificar leitores, a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo teve a edição de 2015 cancelada por falta de recursos. O anúncio oficial foi feito na quarta-feira por José Carlos Carles de Souza, reitor da UPF, uma das entidades promotoras do evento bianual.
A organização estima que conseguiria captar apenas metade dos R$ 3,5 milhões previstos no orçamento da 16ª edição da Jornada. O valor era composto por verbas municipal, estadual e federal, além de contribuições do setor privado via leis de incentivo fiscal.
Escritores falam sobre o cancelamento da Jornada de Passo Fundo
- A cada dia, recebíamos empresários que haviam prometido determinado valor ao evento. Elas afirmavam que estavam repensando e poderiam diminuir a contribuição, devido ao difícil cenário econômico que percebiam para o futuro - afirmou o reitor.
O anúncio da UPF foi feito depois que a professora Tânia Rösing, idealizadora e coordenadora da Jornada, disse ao jornal O Estado de S. Paulo, em reportagem publicada na quarta-feira, que o evento seria cancelado, surpreendendo até mesmo outros organizadores:
- Fizemos uma reunião nesta semana no gabinete do prefeito de Passo Fundo (a Prefeitura é co-realizadora do evento) na qual decidimos que aguardaríamos até meados de junho para a definição (do cancelamento). Fomos surpreendidos pela nota do jornal, que nos trouxe um desconforto muito grande e antecipou essa situação - afirmou Souza.
O professor e escritor Luís Augusto Fischer, que costuma coordenar encontros de escritores gaúchos na Jornada, também não havia percebido sinais de que o encontro não seria realizado neste ano:
- Soube pelo Facebook. Foi uma surpresa total. De longe, posso imaginar o nível de estresse da Tânia e de todo o pessoal da retaguarda, a produção toda.
Procurada por ZH, Tânia afirmou por e-mail que estava fora do país e não respondeu a perguntas sobre o tema. Segundo a assessoria da UPF, ela estaria de férias.
Entre os valores que já estavam assegurados para a realização do evento, estariam R$ 750 mil da prefeitura de Passo Fundo e o valor concedido a cada edição pelo grupo Zaffari para o prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon - algo entre R$ 100 e 150 mil. Além disso, havia a promessa de R$ 200 mil do Banrisul. Segundo Souza, além dos incentivos privados, fizeram falta neste ano doações do Fundo Nacional da Cultura e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, que disponibilizaram juntos cerca de R$ 800 mil em 2013.
A Jornada, também chamada carinhosamente de "circo das letras", já que muitas de suas atividades eram realizadas sob tendas coloridas, não deve ser extinta. Um encolhimento, no entanto, pode ocorrer a partir de 2017.
- Queremos dotar a Jornada de um custo menor, pois esse modelo se mostrou inviável diante da atual conjuntura econômica - avaliou Souza.