
Um minuto e 10 segundos de um delicado dedilhar de violão. Esse é o tempo que Duda Brack usa para anteder às expectativas do ouvinte supostamente atraído pela promessa de o disco É ser mais um daqueles "de guria cantando MPB". Porque, depois disso, todas as certezas e rótulos se perdem.
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Hoje com 21 anos, a gaúcha de Porto Alegre começou a cantar aos 15, para amigos e familiares. Sem raiz musical, tornou-se autodidata e começou a ouvir de tudo. Para quem escuta as guitarras distorcidas e o cantar potente de Eu Sou o Ar (a faixa que abre seu disco de estreia e surpreende os desavisados), difícil imaginar que Tom Jobim foi seu primeiro amor.
- Ele me deu noção de complexidade musical - explica.
Na sequência, descobriu que o hobby era vocação e foi para o circuito de bares e eventos, descobrindo-se intérprete - mas não qualquer intérprete. Aos 18 anos, morando e estudando Música no Rio de Janeiro, topou com uma sedutora cena de música autoral. Era dessa gente - muitos dos quais presentes em É - que Duda desejava ser a voz.
- Queria construir um trabalho com propósito e identidade, não queria repertório que todo mundo canta - ressalta. - No processo, sempre me perguntava por que tal música precisava de mim e por que eu precisava dela. Quando vi, elas eram minhas.
Essa apropriação, ela pontua, se deu pela desconstrução. Para tanto, trabalhou como quis faixas nunca antes gravadas de Dani Black (a antipop Dez Dias), Taís Feijão (o afro indie Vaza), Paulo Monarco e César Viáfora (a etérea Venha), Paulo Novaes (talvez a faixa mais pop do disco, Te Ver Chegar) e outros. Destaque para a penúltima música, Cadafalso, da banda Posada, uma espécie de baião eletrificado de vocal e guitarras sobrepostas e duplicadas.
O resultado impressiona e talvez machuque os mais sensíveis. Com raras exceções, as faixas de É começam e terminam sem previsão. Há rock, MPB, jazz, guitarras e batuques, distorções e eletronices, tudo misturado para gerar desconforto e exigir a atenção do ouvinte. É impossível botar o disco para rodar e ir fazer outra coisa. É foi feito para ser ouvido e nada mais.
Confira o disco inteiro abaixo ou faça download gratuito no site da cantora:
Mesmo intencionalmente complicado, É tem tido boa recepção: os shows no Rio esgotam ingressos e ela ganhou destaque no site da revista VIP ao lado da musa do folk britânico Laura Marling.
- Fiz o que me deu tesão, não queria algo para as pessoas aderirem. É incrível como esse diálogo rolou mesmo assim - diz.