
Banda fechando datas redondas tendem a olhar para o passado. Preparam coletâneas, realizam turnês tocando discos na íntegra e relançam trabalhos. Perto de completar 30 anos, o Nenhum de Nós preferiu olhar para o futuro com o inédito Sempre É Hoje.
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Inicialmente planejado como um EP de cinco músicas, acabou virando um disco completo em meros 10 dias, com previsão de lançamento digital para o final desta semana. A banda cai na estrada para divulgar o trabalho começando por São Paulo, no dia 2 de julho. Em Porto Alegre, o Nenhum se apresenta no dia 24 de julho, no Teatro do Bourbon Country.
A gravação do 16º álbum da carreira do grupo foi em um estúdio na serra gaúcha, onde o quinteto buscou atender a demandas internas e externas, como explica o guitarrista Carlos Stein:
- Além de termos uma necessidade constante de botar material inédito na praça, somos cobrados pelos nossos fãs. Não são poucas as vezes em que alguém pede para renovarmos o setlist.
O acordeonista e tecladista João Vicenti concorda:
- Somos movidos a criação, então fazemos uma turnê pensando no próximo disco.
Ao DNA da banda (letras contemplativas + instrumental sólido), Sempre É Hoje atesta a busca constante do Nenhum de Nós para continuar ativo e relevante no cenário do pop rock brasileiro. A exemplo de discos anteriores, foram somados ao quinteto original parceiros que trouxeram um novo olhar sobre o som do grupo. Um deles foi o produtor JR Tolstoi.
- Depois de 30 anos juntos, tomamos certos atalhos que são naturais. O Tolstoi, apesar de conhecer a nossa música, trouxe esse senso de renovação, porque tem esse olhar de fora - comenta o baterista Sady Homrich.
A mixagem, a cargo do menino prodígio João Milliet, veio por indicação de Lucas Silveira, da Fresno - e é encarada pelo vocalista Thedy Corrêa como um destemor típico do Nenhum:
- Sempre tivemos a cabeça aberta para coisas novas. Ao longo dos anos, trabalhamos com muita gente diferente e testamos sonoridades sem nunca ter medo de errar, de fazer algo inusitado.
E onde, então, se localiza o Nenhum de Nós no cenário atual do pop rock brasileiro?
- Acho que ocupamos um lugar difícil de classificar, meio único - diz o guitarrista Veco Marques. - Nos tornarmos referência tanto pela nossa história quanto pela nossa música.
As 10 faixas por Thedy Corrêa
O Milagre
É uma canção que fala de uma linha de montagem que a música brasileira passa hoje, de gente que faz música como se fosse um produto para colocar na prateleira de um supermercado. É uma manifestação a favor de quem ainda se sensibiliza com a música.
Descompasso
Foi feita quase que ao vivo, com um diálogo muito legal de guitarras. Tem uma pegada muito U2, com linha de baixo distorcida.
Foi Amor
Parceria com a Roberta Campos e com a participação dela. Uma balada em que Roberta pegou um poema do meu livro, Bruto, e resolveu musicar.
Total Atenção
Fala dessa situação de não conseguir a atenção de ninguém porque as pessoas estão sempre divididas entre o real e o virtual. Mas, ao invés de dar uma bronca, a música joga pra cima, dizendo que a gente tem de pegar leve, que essa coisa vai se resolver.
Perfeita Companhia
Com um baixo inspirado em Tomorrow Never Knows (canção dos Beatles de 1966), fala de um voyeur apaixonado, que fica em cima do telhado de sua casa sujeito a todo tipo de intempérie para conseguir enxergar a mulher amada.
Se Você Ficar um Pouco Mais
Uma balada de rock clássico, com direito a piano grandiloquente e solo de guitarra inspirado.
Caso Raro
Inspirado em David Bowie na fase Lets Dance. Tem um groove raro de se encontrar nos discos do Nenhum e arranjo de vozes que pode causar um pouco de estranheza nos fãs mais antigos, mas é uma das músicas de que a gente mais gosta.
Colhendo Tempestades
Parceria com o roqueiro baiano Fábio Cascadura, tem inspiração no Lafayette, tecladista do Roberto Carlos na época da Jovem Guarda.
Amanhã
Outro rock com diálogo de guitarras que lembra uma de nossas maiores influências, o R.E.M.
Estrela do Oriente
Outro poema do Bruto que acabou musicado para este disco. O nosso produtor decidiu usar apenas arranjos de cordas, o que deixou a música como a nossa Eleanor Rigby (faixa dos Beatles de 1966).