
Em seu primeiro curta-metragem, o premiado Messalina (2004), e no seu longa-metragem de estreia, Mulher do Pai, que filma desde abril no interior do Rio Grande do Sul, a diretora Cristiane Oliveira tem como protagonistas personagens cegos. Não é por acaso.
- Na pesquisa com deficientes visuais que fiz para o Messalina, conheci um homem que tinha perdido a visão há mais de 30 anos e, naquele momento, estava perdendo também a memória visual. Achei esse um tema interessante para aproximar de outro que eu pensava em trabalhar, focado na relação entre pai e filha - diz Cristiane.
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Esses dois universos foram conjugados pela cineasta porto-alegrense de 35 anos no roteiro que escreveu para Mulher do Pai. A trama é ambientada em uma localidade da região da Campanha próxima da fronteira com o Uruguai e mostra o processo de aproximação entre Nalu (Maria Galant), menina de 16 anos, e seu pai cego, Ruben (Marat Descartes). O estranhamento pontua a distante relação entre pai e filha, numa convivência interligada pela presença de Rosario (Verónica Perrota), uma professora uruguaia que abre espaço na vida de ambos.
- Ele é um cara do campo, com 40 anos, que perdeu a visão na juventude. Engravidou a empregada da família, que morreu no parto. Quando a mãe dele, responsável pela criação da neta, morre, Ruben é obrigado a descobrir e a exercer a paternidade com a filha já adolescente. Fiquei fascinado pela dimensão desse personagem assim que li o roteiro da Cristiane - afirma Marat, ator paulista conhecido por suas vigorosas atuações em filmes brasileiros com perfil mais autoral, como Os Inquilinos (2009), Trabalhar Cansa (2011), Super Nada (2012, que lhe valeu o Kikito de melhor ator em Gramado) e Quando Eu Era Vivo (2014).
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Marat e Cristiane se conheceram por meio do marido dela, o cineasta brasiliense Gustavo Galvão, com quem o ator trabalhou nos filmes Nove Crônicas para um Coração aos Berros (2012) e Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa (2013). Marat já havia filmado no Estado quando interpretou Licurgo Cambará em O Tempo e o Vento (2013).
- O que me atrai nos projetos menores é a parceria com os amigos, a possibilidade de participar da construção, do artesanato do filme quadro a quadro. Isso é mais difícil em produções maiores, nas quais estou apenas como intérprete de um personagem - compara Marat.
As filmagens de Mulher do Pai seguem até 16 de junho na Vila de São Sebastião, em Dom Pedrito.
- Percorri o Estado em busca de locações rurais que ilustram uma situação de isolamento, em que as pessoas dependem mais uma da outra - explica Cristiane.
Quem assina a fotografia é Heloísa Passos, profissional premiada por seu trabalho em filmes como Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo (2009). Mulher do Pai é uma realização da Okna Produções em parceria com a produtora uruguaia Transparente Filmes. O projeto foi contemplado pelo edital de coprodução Brasil-Uruguai da Ancine e pela linha do Fundo Setorial voltada para longas autorais. A estreia nos cinemas está prevista para 2016.
Notas de bastidores
- Mulher do Pai é o primeiro dos projetos contemplados na edição de 2009 do Prêmio Santander para desenvolvimento de de longas-metragens a entrar em produção. Os outros vencedores do prêmio de R$ 50 mil foram Alice, de Camila Gonzatto, Depois de Ser Cinza, de Eduardo Wannmacher, e Charles Anjo 45 - O Filme, com direção creditada a Claudinho Pereira.
- Ao realizar seu primeiro longa, Cristiane Oliveira entra para o grupo, ainda pequeno, de mulheres à frente de projetos nesse formato no Rio Grande do Sul, que inclui nomes como Ana Luiza Azevedo (Antes que o Mundo Acabe), na ficção, e Monica Schmiedt (Extremo Sul), Liliana Sulzbach (O Cárcere e a Rua), e Dainara Toffoli (Dona Helena), no documentário.
- Marat Descartes atuou nas novelas da Globo como A Vida da Gente e Alto Astral e está escalado para a próxima trama das sete, Totalmente Demais, de Rosane Svartman e Paulo Halm. No elenco, estão Marina Ruy Barbosa, Fábio Assunção, Juliana Paes e Leandro Hassum, entre outros nomes.
- A atriz uruguaia Verónica Perrota atuou no longa Whisky (2004), de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, que teve destacada passagem pelo circuito alternativo brasileiro.