
A névoa que toma o palco e encobre toda a plateia ajuda a envolver o público, e também a nublar ainda mais a compreensão. Em Attends, Attends, Attends (Pour mon Père), não se sabe ao certo se estamos diante de um trabalho de dança, teatro ou performance.
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Por isso, em certo sentido, o espetáculo dirigido e coreografado pelo belga Jan Fabre oferece uma espécie de síntese do Porto Alegre Em Cena: um festival que tem mantido uma programação para além do teatro ao apostar também em música e dança, incluindo trabalhos híbridos que se valem da mistura de linguagens. Daí o Em Cena ser, mais do que um evento de artes cênicas, uma mostra voltada às artes do corpo, em suas diversas manifestações.
É o caso do diretor e coreógrafo Jan Fabre e de seu Attends, Attends, Attends
, que teve sessões sábado (5/9) e domingo (6/9), no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, como uma das atrações internacionais do 22º Porto Alegre Em Cena. Foram duas apresentações concorridas, com ingressos esgotados ainda na véspera.
Conhecido pelo teor provocativo de seu trabalho, Fabre concebeu o espetáculo solo Attends, Attends, Attends especialmente para Cédric Charron, baseando-se, inclusive, em aspectos da biografia do intérprete com quem trabalha há mais de 10 anos.
Em meio à fumaça cênica que sai do palco e envolve a plateia, o performer e bailarino entra em cena vestido todo de vermelho e carregando um grande bastão. Não há cenário, apenas ambiente: o performer, o objeto cênico-coreográfico, o espaço do palco, a música e os jogos de luzes, que geram plasticidade ao rebaterem na névoa que recobre o ambiente.
Confira vídeo com trechos do espetáculo no canal de Jan Fabre no YouTube:
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Nos 60 minutos seguintes, Charron executa um solo em que mistura coreografias de dança, movimentos de performance e momentos de encenação. Essa tripla atuação é o aspecto mais marcante de seu solo.
A movimentação de Charron é entrecortada por momentos de pausa, nos quais, com a respiração ainda ofegante de quem retoma o fôlego após uma sequência de movimentos, ele recita, com o microfone em mãos, textos que desenvolvem a linha dramatúrgica do espetáculo - um diálogo imaginário entre um filho e um pai sobre o nascimento e a morte.
Esses momentos de monólogo teatral, contudo, não contam uma história em si, mas reforçam a densa atmosfera de sonho e até delírio que faz de Attends, Attends, Attends um ensaio a um só tempo coreográfico, cênico, experimental e poético sobre o devir e o que pode haver depois da morte.