

Em 2011, o diretor de televisão Vinícius Coimbra estreou no cinema com uma ousadia dupla: levou novamente às telas o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, já filmado magistralmente pelo cineasta Roberto Santos em 1965. O despudor de Coimbra em revisitar essas obras consagradas rendeu-lhe o troféu Redentor de melhor longa-metragem no Festival do Rio - seu ótimo filme, porém, só entrou recentemente em cartaz no país e permanece ainda inédito no Estado. Em seu segundo longa, A Floresta que se Move (2015) - que estreia hoje na Capital -, o realizador novamente bebe em uma fonte venerável: a tragédia Macbeth. Coimbra, no entanto, não repetiu em sua adaptação de Shakespeare a mesma verve de sua versão rosiana.
Top 10: filmes sobre imigrantes do Terceiro Mundo
Daniel Feix: "Dheepan" é um ensaio poderoso sobre os refugiados na Europa
Na trama de A Floresta que se Move, Elias (Gabriel Braga Nunes) é um executivo bem-sucedido que trabalha em um dos maiores bancos privados do Brasil. Na volta de uma viagem de negócios, chegando ao trabalho com o colega e amigo César (Ângelo Antônio), Elias depara com uma misteriosa bordadeira (Juliana Carneiro da Cunha), que anuncia: ele vai se tornar vice-presidente do banco ainda naquele dia e presidente no dia seguinte. Impressionado com a revelação, Elias conta a história a sua linda e ambiciosa mulher Clara (Ana Paula Arósio), que passa a insuflar no marido a ganância e a sede de poder - engolfando o casal em uma ciranda de traiçoeiros homicídios que começa com o assassinato do patrão e mentor de Elias, o benévolo banqueiro Heitor (Nelson Xavier).
O título do filme é uma referência à profecia final das três bruxas em Macbeth, vaticinando ao protagonista que ninguém nascido de uma mulher poderá lhe fazer mal e que o sanguinário usurpador jamais será vencido até que a grande floresta movimente-se em direção ao castelo. Rodado em 2014 no Uruguai, em belos cenários e construções sofisticadas na região de Punta del Este, A Floresta que se Move custou R$ 3,5 milhões e chega hoje a cerca de cem salas brasileiras. O papel modernizado da terrível Lady Macbeth marca o retorno de Ana Paula Arósio, afastada do cinema e da TV desde 2010, quando desistiu da novela Insensato Coração. A atriz de
40 anos, que mora atualmente com o marido no interior da Inglaterra, chegou a acompanhar antes da filmagem o diretor Coimbra até Paris para assistir a uma montagem de Macbeth feita pelo Théâtre du Soleil, em que Juliana Carneiro da Cunha interpretava uma das bruxas.
Todos os cuidados com a produção, entretanto, não salvam A Floresta que se Move do artificialismo: a modernização do enredo da célebre "peça escocesa" de Shakespeare resulta inverossímil e truncada, diluindo a potência do texto original em uma encenação postiça - e a ausência de gravidade dramática da dupla central não contribui em nada para dar estofo a esse projeto maneirista.
A FLORESTA QUE SE MOVE
De Vinícius Coimbra
Drama, Brasil, 2015, 99min. Em cartaz no Cinespaço Wallig e no Espaço Itaú.
Cotação: 2