Gustavo Brigatti
A boa notícia: tem disco novo de Jerônimo Jardim na praça. Recheado de participações especiais, Singular e Plúrimo, com lançamento nesta quarta no Teatro da Amrigs, é um atestado da força gregária de seu autor. A má notícia: deve ser o último da carreira de JJ.
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Em seu apartamento no bairro Floresta, em Porto Alegre, Jerônimo é um dínamo ao falar do novo trabalho. Conta, empolgado, sobre a criação da capa - uma reprodução do quadro da artista plástica francesa Sandrine Langlade, que ele tem exposto na sala de estar -, a escolha dos mais de 20 convidados ("só não participou quem eu não chamei", brinca) e o peculiar título, retirado do linguajar jurídico ao qual Jerônimo, bacharel em Direito, é íntimo.
Nem parece que, há um ano, ele finalizava as gravações do álbum em um leito de hospital.
- Há uns sete anos sofro de uma doença autoimune que baixa as minhas defesas, me obrigando a tomar pilhas de remédios e que me manda para o hospital umas quatro vezes por ano - explica. - E durante o registro desse disco, acabei internado e administrava a produção dele da CTI, com a minha mulher indo para o estúdio para pagar os músicos, fazer fotos e tal. Quer dizer, não dá mais para mim, é muito cansativo.
Não que adversidades sejam um problema para Jerônimo. Um dos grandes nomes da música regional gaúcha nos anos 1970, estourou no restante do país em 1980, quando Elis Regina gravou a sua Moda de Sangue, incluída na trilha da novela Coração Alado. Em evidência, emplacou a canção Purpurina em primeiro lugar no Festival MPB Shell, em 1981. Mas a música, interpretada por Lucinha Lins, foi recebida com vaia - apupo que se repetiria em 1985 na California da Canção Nativa durante a apresentação de Astro Haragano.
- Ali eu decidi largar a música. Vendi meus violões e fiquei oito anos afastado, me dedicando a escrever livros infantis - conta.
A volta foi no início dos anos 1990, quando a sua Portal começou a ser regravada pela nova geração de cantores gaúchos e venceu etapas regionais de festivais nacionais. Em mais de 40 anos de carreira, fez de tudo - de baladas a rock, passando por samba-enredo, choro e MPB. Com o trabalho anterior, De Viva Voz, venceu o Prêmio Açorianos de Melhor Compositor de MPB em 2011.
Mas é Singular e Plúrimo que ele considera o melhor disco de sua carreira. Gravado todo ao vivo em estúdio, o álbum reúne de parceiros antigos - como Nelson Coelho de Castro, Zé Caradípia e Luiz Coronel - a novos nomes, como Shana Müller e Carlinhos Carneiro, além de pesos-pesados como Borghettinho, Marcelo Delacroix e o grupo vocal cubano Sexto Sentido.
- As cores desse disco não puxam para o amarelo à toa - ressalta Jerônimo - Quis fechar minha trajetória com chave de ouro.
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