
Veio do berço a apaixonada relação de Ingrid Bergman (1915 - 1982) com as câmeras de cinema e fotografia que a imortalizaram como uma das mais belas divas da história do cinema. Diante das lentes de seu amoroso pai, a atriz sueca cresceu transformando-se em personagens que a ajudavam a encarar a perda precoce da mãe e a infância solitária.
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A jovem nascida em Estocolmo fez da continuidade dos registros íntimos, mais que um hobby, uma necessidade de preservação de memórias e afetos. As preciosas imagens captadas por ela ao longo da vida, costuradas aos seus relatos em diários e cartas enviadas para as melhores amigas, conduzem o documentário Eu Sou Ingrid Bergman, que estreia em Porto Alegre nesta sexta-feira (no Espaço Itaú e na Sala Paulo Amorim).
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O filme dirigido por Stig Björkman destaca momentos emblemáticos da carreira e da vida pessoal de Ingrid. Lembra sua trajetória no cinema sueco, a ida para Hollywood, a convite do produtor David O. Selznick, e o trabalho em clássicos como Intermezzo: Uma História de Amor (1939), Casablanca (1942), À Meia Luz (1944), que lhe deu o primeiro de seus três Oscar, Quando Fala o Coração (1945), Interlúdio (1946) e Joana DArc (1948).
Embora convencional em sua narrativa e um tanto reiterativo no uso das imagens domésticas - Eu Sou Ingrid Bergman mostra grande força quando ilumina os conflitos que a atriz viveu na sua determinação de ser dona de seu nariz e enfrentar o conservadorismo de seu tempo.
Definindo-se como um "pássaro migratório", mulher de espírito livre e sem raízes geográficas (viveu na Suécia, nos EUA, na Itália, na França e na Inglaterra), Ingrid provocou um grande escândalo quando, em 1949, entediada com o estrelato, ofereceu-se para trabalhar com o diretor Roberto Rossellini na Itália. A parceria resultou em paixão e fez ambos acabarem seus casamentos. Sob constante perseguição dos paparazzi, Ingrid ficou anos afastada de Hollywood. Estrelou cinco filmes de Rossellini que não tiveram maior repercussão junto ao público e, já com o casmento desgastado, aceitou voltar a Hollywood para brilhar em Anastácia, a Princesa Esquecida (1956), pelo qual ganhou outra estatueta.
Já na maturidade, Ingrid ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por Assassinato no Expresso Oriente (1974) e estrelou a obra-prima Sonata de Outono (1978), de seu conterrâneo Ingmar Bergman. Em um de suas poucas investidas nos bastidores dos filmes de Ingrid, o documentário cita os atritos que ela teve com o diretor na composição de sua personagem, uma pianista famosa que foi mãe ausente e está diante de um catártico reencontro com sua filha adulta traumatizada pela negligência de quem priorizou a carreira à família.
As três filhas de Ingrid, entre elas a atriz Isabella Rossellini, e seu filho falam no documentário sobre como foi ter crescido mudando de país a cada reviravolta na vida da mãe. Ressaltam que, apesar de muitos períodos distante deles, Ingrid foi uma mãe afetuosa que lhes ensinou a vislumbrar o mundo sem amarras. Com o tempo, aprenderam a compreender e admirar a fibra de uma mulher que foi senhora de seu destino e chegou ao fim da vida garantindo não ter arrependimentos das escolhas que fez e dos caminhos que tomou para ser feliz.