Nathália Carapeços
Parece contradição, mas não é: a restauração do Theatro Esperança, em Jaguarão, representa uma volta no tempo. Apesar da renovação estrutural de olho em um futuro promissor, o foco desta nova fase está no passado. Isso porque o desafio é retomar os tempos áureos do centro cultural, no início do século 20.
Depois de cinco anos em reforma, o teatro foi reaberto em novembro com shows de artistas como Shana Muller, Ângelo Franco e Serginho Moah. A obra de cerca de R$ 6 milhões, financiada via PAC Cidades Históricas, contemplou o restauro da cobertura ao piso, entre outros reparos. Mas o espaço centenário não é relevante na cena cultural apenas por ser um dos mais antigos teatros do Estado - junto com o Theatro São Pedro, de Porto Alegre, e o Theatro Sete de Abril, de Pelotas.
- É um símbolo de valorização da nossa cultura e da nossa história. É o único teatro da cidade e, na região, é um dos principais espaços para apresentações - afirma Maria Fernanda Passos, secretária de Cultura e Turismo de Jaguarão.
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Inaugurado no fim do século 19, o teatro tinha uma localização estratégica: estava na rota dos artistas que vinham do Uruguai em direção a Porto Alegre e ao Rio de Janeiro, ou do Brasil aos países vizinhos. Era um local de passagem que acabou se tornando referência no circuito de espetáculos.
- Foi uma oportunidade bem aproveitada naquele tempo, pois os artistas geralmente passavam por Jaguarão. A proximidade da fronteira também tornou o espaço referência para músicos uruguaios. Havia um elo muito forte - explica Eduardo Alvares de Souza Soares, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão.
À época, o principal idealizador do projeto foi o engenheiro José Luis de Farias Santos, que contou com a ajuda do construtor Martinho de Oliveira Braga. Mesmo em um momento de expansão econômica da região, alguns percalços financeiros fizeram com que o prédio fosse a leilão. Quem o arrematou foi um grupo de pessoas influentes na cidade, liderado por Carlos Barbosa. Formou-se, então, a Sociedade Theatro Politheama Esperança.
Assim, as obras foram retomadas, e o teatro inaugurado com apresentação da Companhia Lírica Italiana Cartocci em 13 de janeiro de 1897 - alguns historiadores defendem que a abertura ocorreu um ano depois, em 1898. A partir daí, a programação foi efervescente: no ano de estreia, 103 espetáculos passaram pelo palco. Na história do teatro, marcaram presença nomes como a pianista Guiomar Novaes e o Balé Sodre, do Uruguai.
O espaço começou a perder o rumo a partir da década de 1920, quando passou a funcionar também como cinema - além disso, o fortalecimento da via férrea abriu novos caminhos e afetou o protagonismo geográfico de Jaguarão. Aos poucos, o centro cultural enxugou a programação e começou a sofrer com problemas estruturais.
- Ocorreram algumas reformas, mas recebíamos pouquíssimos espetáculos. Não deixamos de ter apresentações, só que abria raramente. Os tempos áureos tinham ido embora - conta Soares.
Nos anos 1990, o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado e, em 2011, passou para tutela e proteção da mesma instituição em nível nacional. Agora, após a restauração, os planos da prefeitura são de recolocar o teatro na rota de espetáculos de peso. Em dezembro, a programação contou com apresentações de dança e música, como o lançamento do disco Náufragos Urbanos, de Martim César, Ro Bjerk e Ricardo Fragoso. A agenda de janeiro ainda não foi definida.
- Queremos integrar ainda mais Uruguai e Brasil, mantendo a pluralidade e o intercâmbio cultural - diz a secretária Maria Fernanda, adiantando que, ainda em janeiro, deve ser estruturado o regulamento para uso do espaço com plateia para 500 lugares.
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