Roger Lerina
O nome de Charlie Kaufman nos créditos de um filme significa sempre uma promessa de inventividade e surpresa na tela. Sete anos depois da estreia na direção com o ambicioso e claudicante Sinédoque, Nova York (2008), um dos mais inquietos roteiristas do cinema americano atual volta à realização com o aparentemente mais simples Anomalisa (2015). Porém, a trivialidade da história de um sujeito entediado que experimenta uma epifania em um encontro amoroso durante uma viagem de negócios é enganosa: o vencedor do Oscar de melhor roteiro original por Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004) expõe com dolorosa crueza fraturas da sociedade contemporânea como a desconexão com a realidade e a incomunicabilidade humana. Codirigido com Duke Johnson, o longa em cartaz na Capital foi a primeira animação a ganhar o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza e está concorrendo ao Oscar da categoria.