
Steve Jobs é tudo menos uma cinebiografia convencional. A história de um dos maiores gênios da informática e cofundador da Apple não é apresentada no filme, que estreia esta quinta na Capital, como usualmente Hollywood conta a trajetória dos homens notáveis, desenhando um arco cronológico que dê conta dos principais episódios da existência do personagem. Para traçar o retrato do cultuado inventor e empreendedor, o roteiro de Aaron Sorkin, premiado com justiça no último domingo com o Globo de Ouro, optou por concentrar a dramatização em apenas três momentos chave da carreira de Steve Jobs (1955 - 2011). A opção narrativa não empolgou o público americano, que talvez tenha achado o recurso sofisticado demais para falar de um ícone da cultura pop - mas Steve Jobs acaba sendo bem sucedido na difícil tarefa de lançar alguma luz sobre a complexa personalidade do visionário que revolucionou o mercado de computadores e a maneira como nos relacionamos com a tecnologia.
O longa tem direção do inglês Danny Boyle, premiado com o Oscar por Quem Quer Ser um Milionário? (2008). Em Steve Jobs, o cineasta conduz com ritmo e segurança o desenvolvimento da trama, que vai revelando, aos poucos, o caráter intratável do protagonista e de suas conturbadas relações com colaboradores, amigos e familiares ao mostrar os bastidores que antecederam três grandes lançamentos de computadores concebidos pelo empresário tecnológico: o Macintosh em 1984, o NeXT em 1988 e o iMac em 1998.
Quem encarna Jobs é o ator Michael Fassbender - que esteve recentemente em cartaz nos cinemas protagonizando Macbeth: Ambição e Guerra (2015). Um dos mais celebrados intérpretes do cinema atual, Fassbender constrói sua atuação em cima das ambiguidades do papel, criando uma espécie de quase-vilão fascinante.
Jobs unia genialidade e inabilidade social
Nos poucos minutos que antecedem o trio de eventos cobrindo 16 anos, Jobs conversa - na verdade, discute - com um mesmo grupo de pessoas próximas: a chefe de marketing Joanna Hoffman (Kate Winslet, que levou o Globo de Ouro de atriz coadjuvante), Steve Wozniak (Seth Rogen), cofundador da Apple, e John Sculley (Jeff Daniels), CEO da empresa, entre outros personagens. A tensão aumenta ainda mais nas discussões com a ex-namorada Chrisann Brennan (Katherine Waterston), que insiste em convencer o egoico magnata da informática a assumir a paternidade de sua filha.
A homogeneidade de atuações do ótimo elenco está à altura da agilidade exigida pelos duelos verbais escritos por Sorkin - roteirista de filmes como A Rede Social (2010) e das séries West Wing e The Newsroom. A concepção de Steve Jobs em três atos, em que cada um ecoa o anterior, é um acerto dramático que facilita acompanhar a evolução das pendências e dilemas do controverso anti-herói. Ainda que a parte final suavize excessivamente o tom, buscando resgatar a humanidade de Jobs, o filme é eficaz em prender a atenção do público em sua dissecação desse homem singular - que conciliava a capacidade excepcional de enxergar o futuro com a cegueira em relação aos sentimentos e à vida ordinária.
STEVE JOBS
De Danny Boyle
Drama, EUA, 2015, 122min. Estreia quinta no circuito de cinemas.
Cotação: 4
Cinemark Ipiranga 6 (14h30, 17h20, 20h20)
Espaço Itaú 3 (14h10, 19h10)
Espaço Itaú 6 (21h10)
GNC Iguatemi 6 (16h40, 22h)
GNC Moinhos 3 (13h50, 19h)
GNC Praia de Belas 6 (17h15, 19h40, 22h10)
Guion Center 3 (14h20, 21h05)
MAIS JOBS NAS TELAS
Ashton Kutcher tinha encarnado antes o gênio da informática em Jobs (2013), uma cinebiografia superficial do personagem. Já o documentário Steve Jobs: Visionary Genius (2012) é uma reverência ao empresário. Ao contar as histórias de nascimento da Apple e da Microsoft, o filme Piratas da Informática: Piratas do Vale do Silício (1999) colocou lado a lado os gurus da tecnologia Steve Jobs e Bill Gates.