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A Colômbia possui uma das cinematografias mais vigorosas em termos de qualidade atualmente na América Latina. Depois de O Abraço da Serpente (2015), indicado ao Oscar de filme estrangeiro deste ano, é a vez de Porto Alegre conhecer mais uma potente produção do país vizinho: A Terra e a Sombra (2015).
Vencedor no Festival de Cannes da Caméra d’Or – entregue ao melhor filme de estreia –, entre outros prêmios, o primeiro longa do diretor e roteirista César Augusto Acevedo alterna-se com igual desenvoltura entre a denúncia de cunho social sobre as condições de trabalho ultrajantes dos cortadores de cana
colombianos e a narração de um comovente melodrama familiar.
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No filme que entra em cartaz nesta quinta-feira (17/3) no CineBancários, em Porto Alegre, Alfonso (Haimer Leal) retorna 17 anos depois de abandonar a família para cuidar do filho, Gerardo (Edison Raigosa), doente por causa da fumaça das queimadas nos canaviais. A acolhida ao patriarca é variada: a nora, Esperanza (Marleyda Soto), recebe-o com simpatia, enquanto a ex- mulher, Alicia (Hilda Ruiz), ignora-o. Já o neto, Manuel (José Felipe Cardenas), aproxima-se do avô com curiosidade.
Com Gerardo acamado, Esperanza e Alicia assumiram o trabalho no campo. Mesmo trancafiado no quarto com as janelas fechadas, o rapaz piora de saúde, e os familiares buscam uma maneira de interná-lo, apesar de não conseguirem qualquer ajuda dos empregadores. Ao mesmo tempo, vão se revelando aos poucos tanto os motivos que levaram o pai a deixar o rancho quanto as razões pelas quais a mãe se nega a sair de lá.
A Terra e a Sombra foi filmado em meio a fazendas de cana na região do Valle del Cauca, no oeste da Colômbia. Os únicos atores profissionais do filme são Marleyda Soto e Hilda Ruiz – o protagonista Haimer Leal, por exemplo, trabalhava como zelador no teatro da cidade de Cali onde foram realizadas as audições para o elenco, que contou com ajuda da brasileira Fátima Toledo na sua preparação.
O jovem realizador Acevedo disse que demorou quase uma década até finalmente conseguir rodar sua história – cuja inspiração afirma ser autobiográfica, já que também se sentiu dividido quando a mãe morreu e o pai sumiu de casa.
Um dos destaques de A Terra e a Sombra é a fotografia de Mateo Guzmán, que capta em belos enquadramentos o contraste violento na paisagem entre o verdor da vegetação ao redor e o cinza da permanente fuligem – uma apropriada ilustração visual para as forças conflitantes que dilaceram a família de pobres trabalhadores rurais.