

Estrela que marcou os palcos brasileiros a partir dos anos 1960, Myriam Muniz (1931 - 2004) fez história também na televisão, em novelas de grande apelo popular, como Nino, o Italianinho (1969), na TV Tupi. Mas seu negócio não era o sucesso; era a arte, como relata o ator Cassio Scapin, que vive Myriam no solo Eu Não Dava Praquilo, que estreou em 2013 e chega a Porto Alegre nesta sexta-feira (4/3):
- Ela quase não deixou entrevistas. Não gostava da mídia, não se relacionava bem com a exposição. A não ser por meio das personagens.
Scapin escreveu o texto do espetáculo ao lado de Cássio Junqueira, baseado em um DVD com depoimento de Myriam registrado por amigas em 1999 e na biografia Giramundo, de Maria Thereza Vargas. Em cena, ele praticamente dispensa maquiagem. Quase sem recursos cênicos, apoia-se no gestual e na dicção para reproduzir a personalidade da estrela, em trabalho que lhe valeu o prêmio de melhor ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
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Eu Não Dava Praquilo tem sessões nesta sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro do Centro-Histórico Cultural Santa Casa (Independência, 75), em Porto Alegre, com ingressos a R$ 25. Há desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante e acompanhante.
O ator observa que Myriam fez parte de uma notável geração de atrizes que incluiu Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg, Ruth Escobar e Nicette Bruno:
- É uma gama de atrizes com potência. A Myriam era uma dessas mulheres. Tinha um jeito muito pitoresco, muito forte, de se expressar.
Scapin conta que ela era, sobretudo, desapagada das coisas materiais e costumava demonstrar grande generosidade - era comum que presenteasse os visitantes de sua casa com um livro ou qualquer outro objeto de afeto.
- Isso tem a ver com a formação de uma geração que está terminando - diz o ator. - Onde foram parar o artista e os valores da sociedade? Era uma geração formada no pós-guerra com leituras de Sarte, Simone (de Beauvoir), Pirandello, Lorca, enfim, outro desejo de mundo.
A direção do espetáculo é de um antigo parceiro, Elias Andreato, que dirigiu Scapin em Visitando o Sr. Green, peça na qual contracenou com Paulo Autran (1922 - 2007). O espetáculo teve uma bem-sucedida temporada no Theatro São Pedro, na Capital, em 2001, e também passou por Santa Maria e Pelotas. O texto do norte-americano Jeff Baron está, atualmente, em turnê nacional, agora com direção de Scapin, estrelando Sérgio Mamberti e Ricardo Gelli.
- É uma montagem diferente, mas foi ótimo retomar o texto. Lembrava de cada coisa (da versão anterior), não só das cenas, mas de minha relação com Paulo (Autran). Foi emocionante.
Entre seus projetos, está a novela Escrava Mãe, da Rede Record, com previsão de estreia para abril; a série Condomínio Jaqueline, na Fox; e a peça Histeria, com direção de Jô Soares, uma "comédia surrealista" do britânico Terry Johnson sobre um encontro entre Freud e Salvador Dalí.