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Nas muitas vezes em que exige do espectador uma atitude interpretativa diante do significado conceitual das obras, a arte contemporânea solicita que o olhar as compreenda como peças discursivas, demandando uma leitura mais racional. Revisitar algumas das experiências da etapa moderna do século 20 pode oferecer uma oportunidade de se experimentar um tipo de arte que coloca o fenômeno visual à frente de seu conteúdo textual.
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Em cartaz na Fundação Iberê Camargo (FIC) depois da estreia no Itaú Cultural de São Paulo em novembro, a mostra Sergio Camargo - Luz e Matéria é um convite ao prazer da pura visualidade em uma época em que a ênfase discursiva pauta um bocado da produção contemporânea.
Com mais de 80 obras reunidas em dois andares da FIC, a exposição com curadoria dos críticos Paulo Sergio Duarte e Cauê Alves oferece um panorama do percurso de um dos mais importantes escultores modernos brasileiros, reconhecido internacionalmente e com peças incluídas nos acervos do MoMA e da Tate.
Há desde os primeiros trabalhos em madeira pintada dos anos 1960, passando pelas peças em mármore carrara e negro belga que o artista produziu nas décadas seguintes até sua morte, em 1990. Na maneira como a mostra apresenta essa trajetória, é possível perceber que mudaram não só os materiais usados por Camargo, mas também a configuração das formas esculpidas.
Foto João Musa, Divulgação
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Os primeiros relevos expostos nas paredes são seguidos pelas construções cilíndricas e geométricas que ganham o espaço expositivo. Se nesse caminho identifica-se uma mudança na feição das esculturas, permanece com forte acento o viés construtivo que o artista continuou a explorar mesmo depois do esgotamento das vertentes abstratas que tomaram a cena artística brasileira entre os anos 1940 e 1960.
E ainda há o branco, a cor que virou predileção de Camargo. É surpreendente e impactante ver esse conjunto de esculturas brancas instaladas nas salas e galerias totalmente brancas da FIC. Mais do que um diálogo entre espaço, cor e formas, a obra de Camargo estabelece ali uma espécie de complementaridade entre arte e arquitetura, gerando um jogo visual muito potente.
Transitar por esse ambiente que hospedou de forma tão instigante as peças de Camargo, renovando nosso olhar sobre elas, envolve também uma tomada de consciência: a de que a posição que ocupamos no espaço ao observar esses trabalhos não só influencia o modo como os vemos, mas dá sentido à experiência visual que eles nos oferecem.
SERGIO CAMARGO - LUZ E MATÉRIA
Visitação de terça a domingo (inclusive feriados), das 12h às 19h (último acesso às 18h30min). Até 12 de junho.
Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000), em Porto Alegre, fone (51) 3247-8000. Gratuito.
Estacionamento: no subsolo da Fundação, com entrada pela Av. Padre Cacique, no sentido Zona Sul.
A exposição: apresentada no Itaú Cultural em São Paulo, a mostra chega a Porto Alegre com mais de 80 obras de Sergio Camargo, um dos mais importantes escultores brasileiros.
Foto João Musa, Divulgação
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