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É muito difícil encontrar algum ator brasileiro que não tenha vontade de se aventurar em uma carreira internacional. Mas Rodrigo Santoro garante que esse caminho também gera sonhos inversos. Há 13 anos sem conseguir fazer novelas no Brasil, o petropolitano de 40 anos finalmente realiza um desejo antigo: se reaproximar do gênero que faz tanto sucesso no nosso país.
Santoro interpreta o fazendeiro Afrânio em Velho Chico, próxima novela das 21h da Globo, durante a primeira fase da trama, que dura 24 capítulos - na segunda fase, o papel passa a ser de Antonio Fagundes.
– A novela dialoga com o público de uma forma diferente por inúmeras questões. Desde o horário em que é exibida até a forma de folhetim. E eu já me sentia afastado desse lugar há muito tempo, com uma necessidade de me aproximar. Tem a história, o fato de trabalhar de novo com o Luiz (Fernando Carvalho, diretor) e saber que eu ia passar por esse processo – afirma o ator.
O folhetim, de Benedito Ruy Barbosa, aborda uma saga familiar que atravessa gerações às margens do Rio São Francisco. E desemboca no amor impossível de Maria Tereza (Isabella Aguiar/ Julia Dalavia/ Camila Pitanga), a filha de Afrânio, e Santo (Rogerinho Costa/ Renato Góes/ Domingos Montagner).
Na primeira fase, Coronel Jacinto (Tarcísio Meira) é dono de quase tudo em Grotas de São Francisco, mas quer comprar a fazenda Piatã, do Capitão Ernesto Rosa (Rodrigo Lombardi). Jacinto é casado com Encarnação (Selma Egrei), enquanto Ernesto vive com a esposa Eulália (Fabiula Nascimento). O primeiro casal tem um único filho, Afrânio, que assume o lugar do pai após sua morte e se casa com Leonor (Marina Nery), que dá à luz Maria Tereza. Já Ernesto e Eulália adotam Luzia (Carla Fabiana/ Larissa Góes/Lucy Alves) e também acolhem da seca os retirantes Belmiro (Chico Diaz) e Piedade (Cyria Coentro), com o filho deles, Santo. Crescidos, Luzia é apaixonada por Santo, mas o coração dele é conquistado justamente por Maria Tereza.
As gravações da primeira fase se concentraram, em grande parte, no Nordeste, que serve de locação para a novela. Uma região que Rodrigo assume ter conhecido com mais profundidade agora, já que, até então, suas experiências ali eram quase sempre como turista.
– Tive uma oportunidade muito especial de conhecer as entrelinhas do sertão. Estávamos ali com as texturas, interagindo com o que é real, o que é vivo. As pessoas que encontrei me tocaram demais – conta, pouco antes de entrar nos estúdios do Projac, no Rio de Janeiro, para um longo e cansativo dia de gravações.
Mais do que treinar o sotaque ou ensaiar os trejeitos de Afrânio, Rodrigo quis captar os sentimentos e a energia das pessoas com quem cruzava em cada local por onde a equipe de Velho Chico passava. E, enquanto tentava se aproximar da vida delas e da natureza, entrega que encarou momentos de emoções fortes que foram cruciais para o trabalho.
– Estivemos em uma locação em que não tinha água na região. No fim do dia, cansado, tomei um banho no caminhão-pipa com as crianças e aquele momento eu nunca vou me esquecer. Uma imagem linda e, ao mesmo tempo, dolorosa. A alegria delas ao verem a água! Quando chegamos, a segurança tomou conta por causa do assédio. Mas eles não estavam nem aí para a gente. A grande estrela era o caminhão-pipa e a água naquela abundância – recorda, emocionado.
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Retorno esperado
Rodrigo garante que quer continuar trabalhando no Brasil, apesar do rumo estrangeiro de sua carreira. Atualmente, ele esta contratado para a série norte-americana Westworld, produção de J.J. Abrams para a HBO, o que permitiu que ele pudesse aceitar o convite de Luiz Fernando Carvalho para a novela.
– A série tem começo, meio e fim; consigo me planejar melhor. Foi até uma das razões pelas quais eu quis fazer – explica.
Westworld é ambientada, principalmente, em um parque de diversões para adultos, que leva o nome da série. Lá, um robô pistoleiro perde o controle e sai atirando para todos os lados. O personagem principal, o diretor do parque, é interpretado por Anthony Hopkins. Já Rodrigo encarna um pistoleiro procurado pela polícia. A estreia estava prevista para 2016, mas já se fala em adiá-la para 2017.
Apesar de deixar claro que sentia falta de atuar em novelas especificamente, Rodrigo assume que, há anos, tinha o desejo de fazer um trabalho mais substancial em seu país. Que poderia ser longo ou curto, em uma novela ou série, na televisão ou no cinema. Mas confessa que Velho Chico tem motivos extras para seduzi-lo.
– O convite veio do Luiz Fernando Carvalho, que é um amigo e parceiro por quem tenho admiração há muito tempo. Eu queria encontrar um trabalho bacana aqui e veio esse, com tudo se alinhando. Me emocionei com a história – diz. Sobre o futuro, Rodrigo prefere não falar nada que seja precipitado.
– É claro que trabalhos mais longos são mais complicados de conseguir estruturar, pela dinâmica que a minha vida tomou hoje em dia. Mas estou feliz pela forma como as coisas estão acontecendo. Tudo vai depender dos trabalhos que vierem – desconversa.
*Márcio Gonçalves