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Defender direitos e ideais é algo que motiva Lilia Cabral. Nesse sentido, interpretar uma conspiradora do século 19 que lutava contra a corte portuguesa e a favor da população mais carente é uma conquista e tanto para a atriz. E é justamente isso que a sonhadora Virgínia representa em Liberdade, Liberdade, novela das 23h da Globo.
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Na entrevista a seguir, a atriz confessa que se considera feminista, garante que não força uma sensualidade óbvia e, entre outros assuntos, entrega que sempre usa um pouco de suas referências pessoais nas composições, mesmo nos papéis mais distantes de sua realidade.
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Seu último trabalho foi em Império, uma trama das 21h, e em um dos papéis centrais. O que a fez se interessar por Liberdade, Liberdade?
Primeiro, recebi esse convite e achei extremamente instigante. Uma trama assim leva a gente para um mundo jamais imaginado, sabe? Quando entro no set, a sensação é de que aquilo é algo muito distante de mim. Aquela coisa selvagem, grotesca e suja. Tão diferente de tudo que eu tenho feito. Acho importante, principalmente porque tenho de me desconstruir. Isso tudo é um teste para mim. E acho que tenho me comportado muito bem. Eu nem vi a sinopse, aceitei na hora em que me chamaram. Disse: “Eu quero, eu quero, eu quero!”.
O que mais encanta você na Virgínia?
É uma mulher que teve uma grande decepção amorosa, e seu caminho foi o da prostituição. O que não significa que ela seja inferior ou menor. Cada mulher que sofria alguma coisa ou que engravidava era abandonada pela família. A Virgínia achou uma forma de perceber o quanto ela poderia existir como mulher, não como uma pessoa submissa à família, aos modos tradicionais e tudo mais. Fiquei muito surpresa por ela ser uma conspiradora. A gente ouve pouco falar dessas mulheres. Procurei não uma expectativa de levantar bandeira, defender feminismo e tudo mais, mas de lutar por aquilo em que a gente acredita. Quanto mais a gente acredita, mais as pessoas se convencem dos nossos ideais.
Você se considera uma feminista?
Sim, me considero. Defendo aquilo que eu gosto. E, como mulher, defendo os meus direitos. E também aproveito as personagens que eu faço para isso. Mas tenho uma postura elegante. Não saio berrando. Ao mesmo tempo, sou consciente daquilo que sou como profissional, como mãe de família, enfim. Luto pelas coisas que quero.
Liberdade, Liberdade é uma novela que coloca mulheres nessa posição de liderança. Como você vê isso?
É tudo o que a gente gosta de fazer, né? Essa postura não é de hoje. Se você for olhar, quantas novelas têm a preocupação de colocar a mulher como uma pessoa de fato importante na sociedade? Novela é feita para a mulher. Os homens assistem, é claro, mas as mulheres assistem muito mais.
Você interpreta uma dona de bordel. Como lida com essa sensualidade explorada em pleno século 19?
Uma coisa é você ser sensual, outra é ser erotizada. Não fiquei procurando me colocar de forma sensual ali. Quando entro vestida com aquele figurino, com aquele despojamento, com os peitos protuberantes no decote, as pessoas que contracenam comigo devem sentir automaticamente que existe uma mulher sensual ali. Fui por um caminho mais doce, menos óbvio. Aliás, eu nunca vou pela obviedade.
Você já fez muitos papeis na televisão, desde mulheres íntegras às megeras. Com quais se identificou mais?
Todos os personagens têm um pouco da gente. A gente não conta para ninguém, mas faz um pouquinho desse jeito. Acho que é no próximo papel que você percebe essas coisas. A gente fica tão obcecada que, de repente, acha que construiu aquilo tudo. Não foi! Quando passa, enxerga as referências pessoais que estavam ali. Acho que, na próxima novela, vou dizer: “Nossa, quantas referências eu tirei para fazer a Virgínia”.