
Havia algo de selvagem no humor de Hector Babenco, disse o ator Willem Dafoe em entrevista a ZH, por ocasião do lançamento de Meu amigo hindu (2015). Neste longa, que acabou se tornando o filme-testamento do cineasta morto nesta quinta-feira, aos 70 anos, o ator norte-americano interpreta um personagem inspirado no próprio Babenco, em uma trama que lembra sua jornada de superação de um câncer no sistema linfático, duas décadas atrás. Mais do que tornar pública a própria história, Meu amigo hindu permite conhecer a autoironia com que o diretor encarou a doença. Não há informações sobre a relação da doença com a morte do diretor. Babenco havia feito passado por um processo cirúrgico na última terça-feira, do qual se recuperava bem.
Na trama de Meu amigo hindu, assumidamente autobiográfico, Dafoe interpreta um cineasta nascido no Exterior, mas que vive no Brasil – Babenco nasceu em Mar del Plata, na Argentina, mas se mudou ainda jovem para o Brasil e naturalizou-se brasileiro. O personagem de Dafoe descobre ter um câncer terminal, que lhe dará, segundo seu médico (Reynaldo Gianecchini), de "dois a três meses de vida". E o doutor indica: sua única salvação é ir aos Estados Unidos para realizar um transplante de medula.
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O nome do personagem é Diego, mas sua história é claramente inspirada na experiência do próprio diretor, sobrevivente de uma árdua batalha contra um tumor no sistema linfático – que havia sido superada no final dos anos 1990, após uma longa jornada realizada na região de Seattle que incluiu transplante e outros procedimentos.
O "amigo hindu" que dá nome ao filme é uma criança igualmente em tratamento, encarnada pelo garoto Rio Adlakha, com quem ele estabelece uma relação de cumplicidade. Ele só aparece na metade final do longa, quando Diego se recupera no hospital. Antes, o espectador acompanha o relacionamento de Diego com sua mulher (Maria Fernanda Cândido), que se deteriora com o avanço da doença e a materialização do drama de ver a morte de perto. Literalmente: o personagem que representa a morte é interpretado por Selton Mello, que, ao perguntar para o diretor seu último desejo antes de ser vencido pela doença, recebe como resposta: fazer um último filme.
Outros personagens presentes no filme são irmão do protagonista, de quem ele recebe a doação que permite a realização do transplante, vivido por Guilherme Weber, e Bárbara Paz, que encarna uma personagem que representa basicamente quem ela é na vida real: a atriz que se tornou conhecida após participar de um reality show, com quem Babenco se casou após separar-se de sua companheira à época da luta contra a doença. Uma curiosidade é o personagem Davis (Phil Miler), que o hospeda em sua recuperação pós-cirurgia nos EUA – figura inspirada no pintor e cineasta Julian Schnabel.
O cineasta Hector Babenco morreu na noite desta quarta-feira, aos 70 anos. Ele sofreu uma parada cardíaca em casa, por volta das 23h, A informação foi confirmada por sua ex-mulher, Raquel Arnaud, ao jornal Folha de S. Paulo. Babenco foi internado na terça-feira, segundo o G1, para um procedimento cirúrgico, do qual se recuperava bem. Ainda não há informações sobre velório ou enterro.