
Alexandre Assis Brasil, o Guri, cresceu ouvindo música folclórica na fronteira com o Uruguai, virou fã de rock britânico em Porto Alegre quando adolescente e, adulto, travou contato com o legado do manguebeat em São Paulo. Agora, o ex-guitarrista da Pública explora as sonoridades da Bacia do Prata em seu segundo trabalho solo, que poderá ser conferido na noite desta quinta (25) no Ocidente.
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Lançado há pouco com patrocínio do edital Natura Musical, Ressaca é o sucessor de Quando calou-se a multidão (2013) e reflete, primeiro, o amadurecimento de Guri como instrumentista. Os anos tocando com músicos tarimbados, como Otto, Pupilo e Lirinha, trouxeram o protagonismo que um frontman precisa ter. Segundo, fizeram de Guri um letrista mais seguro.
– No primeiro disco eu estava aprendendo a escrever, brigava demais com as palavras – comenta. – Agora a coisa foi mais natural.
Essa tranquilidade ajudou a liberar a essência melancólica de Guri. Ressaca é um disco de poesia lúgubre, que transborda saudade e sentimentos nublados – ao mesmo tempo que apresenta instrumental solar, quase dançante. Sobre a batida reggaeton de Casco, por exemplo, ele fala de "voltar para o lugar de onde vim / o retorno é tão breve que ausenta / então lembra de tudo o que já passou / esqueça aquilo que ainda corrói".
Tal dualidade dá a tônica de todo o álbum, que costura ainda guitarras encapadas por sintetizadores em Laranjeira, um reggae discreto na romântica Mancha ("Sem questionar, esqueço a tua vida junto a minha e vivo sem teus sonhos construídos junto aos meus"), um r&b em Rastro de bala e até tango eletrônica em Geada.
Ressaca é um trabalho fino de pesquisa e referência, que adentra território muito pouco explorado por músicos brasileiros e, portanto, poderia dar muito errado. Mas deu muito certo.