Gustavo Brigatti
Volte para 1994. Volte para o primeiro disco do Mundo Livre S.A, Samba Esquema Noise. Volte para a música que dá nome ao álbum, a última da tracklist, uma levada de violões delicada sobre base eletrônica que pouco ou nada conversa com o restante do trabalho. Agora avance para 2016 e eis que ela se conecta à perfeição com a primeira investida solo de Fred Zero Quatro, que será apresentada em Porto Alegre neste final de semana.
Leia mais
Quarteto relembra clássicos do jazz nacional em evento paralelo ao POA Jazz Festival
"Me considero gaúcho", diz brasiliense Tiago Iorc
Wilco vem ao Brasil com novo disco folk e introspectivo
O cerne do projeto é antigo, mas, segundo Zero Quatro, começou a ganhar corpo depois de algumas passagens pelo Rio Grande do sul. Conta o músico que uma das razões para levar adiante o disco solo foi a aprovação do público gaúcho pelos lados B do Mundo Livre e a boa recepção que teve quando apresentou sua versão de Samba Esquema Noise no festival El Mapa de Todos, em Porto Alegre em 2014.
– Todo mundo gostou e veio me dizer que eu tinha que investir naquele som – lembra Zero Quatro. – Daí eu levei uma primeira versão do projeto para tocar em Porto Alegre e em outras cidades do Sul e novamente a resposta foi boa. Me animei e comecei a trabalha pra valer.
Zero Quatro passou então a burilar o acumulado de ideias que tinha guardado – que podiam não caber no repertório do Mundo Livre, mas são interessantes demais para juntarem pó na gaveta da memória.
– Desenvolvi um conceito que eu chamo de minimalismo triangular, em que a maioria das harmonias é composta só com três cordas, que chamo de cordas triangulares – conta. – As letras partem do princípio de que deus é uma alma bêbada e bilionária.
O atraso da finalização do DVD do Mundo Livre (lançado no semestre passado) também serviu para Zero Quatro acelerar o processo, afinando as canções que deverão começar a ser registradas em estúdio em breve com o parceiro Carlos Eduardo Miranda – também produtor dos primeiros discos da banda de Zero Quatro.
– Miranda acredita que é um tipo de música que deverá agradar o pessoal que gosta de música instrumental, jazz – explica o músico. – A ideia, segundo ele, é dar um tratamento erudito-punk, com cordas e sopros.
Mas essa pompa toda deverá ficar para o disco finalizado – que tem o nome provisório de Sonofbit. Para o show em Porto Alegre, o músico será acompanhado no palco apenas por seu violão. Na coxia, o engenheiro de som Adriano Duprat deverá fornecer bases eletrônicas para algumas canções, mas nada que tire o protagonismo experimental de Zero Quatro.