
Um dos artistas mais prolíficos do Rio Grande do Sul, Wander Wildner se viu no meio de uma polêmica. Durante o final de semana, o cantor foi acusado de racismo e machismo durante uma apresentação em São Paulo, que foi interrompida. O assunto dividiu as redes sociais, com fãs e amigos se posicionando ao lado de Wander, enquanto outros reprovavam o ocorrido.
Parceiro de Wander, o músico Arthur de Faria fez um post de desagravo no Facebook na tarde desta terça-feira:
Wander surgiu para a cena musical no começo dos anos 1980, integrando a seminal banda punk Os Replicantes. Em 1985, nos estertores da ditadura militar, o grupo lanço seu primeiro disco, um compacto com as músicas Nicotina, Rockstar, O Futuro é Vortex e Surfista Calhorda – todos clássicos instantâneos. Com os Replicantes, gravaria quatro discos de estúdio até 1989, quando debandou para carreira solo.
Para sua estreia em 1996 com o LP Baladas Sangrentas, manteve a base da escola punk rock que frequentou, mas expandiu seu universo sonoro para o folk, a música regional gaúcha, a música brega, misturando também português com espanhol. O disco traz canções que até hoje figuram no set list de Wander, como Eu Tenho uma Camiseta Escrita Eu Te Amo, Lugar do Caralho (faixa que Júpiter Maçã resgataria em A Sétima Efervescência) e o hino Bebendo Vinho – que virou canto da torcida do Grêmio e ganhou projeção nacional quando foi regravada pelos paulistanos do Ira! em 1999 no álbum de covers Isso é Amor.
Wander seguiria pelos anos 1990 e primeira metade dos 2000 ostentando o rótulo de punk brega, em discos como Buenos Dias! (1999), Eu Sou Feio... mas Sou Bonito! (2001) e Paraquedas do Coração (2004) – este, com produção de Tom Capone e versões impagáveis de Iggy Pop (Candy) e Ramones (Eu Acredito em Milagres) e a regravação de Hippie, Punk, Rajneesh dos Replicantes.
Em 2005, após ganhar projeção nacional com o projeto Acústico MTV Bandas Gaúchas, fixa residência em São Paulo. A mudança de ares reflete na sua música, que passa a girar em torno do violão. Com produção de Berna Ceppas e Kassin, La Cancion Inesperada (2008) mostra um Wander mais pop, no sentido de acessível, contemplando timbres e texturas mais universais – embora a verve sardônica perpasse todo o trabalho, tanto nas autorais Um Bom Motivo, Mares de Cerveja e O Reverendo Rock Gaúcho como na versão para Amigo Punk, da Graforreia Xilarmônica.
A música e a identidade latino-americana, hoje tão tem voga entre a nova cena musical, já havia sido destrinchada por Wander na dobradinha Caminando y Cantando (2010) e Mocochinchi Folksom (2013), álbuns onde relê Belchior (A Palo Seco) e canta o fim do capitalismo na Bolívia (Mocochinchi).
Mas a situação política caótica que se desenhava no país o fez voltar para o rock em Existe Alguém Aí? (2015). No oitavo disco, Wander encarna personagens diferentes nas canções – vários deles mulheres. Fala de solidão (em Sua Própria Companhia), comida orgânica (Plantar, Colher e Depois Dançar), cita o caos urbano porto-alegrense (Réquiem para uma Cidade) e o exemplo que vem da democrática Berlim (Ela É uma Phoenix).
No ano passado, lançou dois discos: a coletânea Wanclub, com faixas escolhidas pelos fãs nas redes sociais, e A Vida é uma Toalha Estendida no Varal, que mantém a pegada roqueira.