
Foram tantas barbaridades ditas na estreia do MasterChef profissionais, na noite desta terça-feira, que, com medo de esquecê-las, tive de recorrer ao caderno de colégio da minha filha mais velha. Depois, tomei o cuidado de arrancar as folhas com as anotações, para não expor a Helena a doses cavalares de rispidez, sarcasmo e veneno – com o agravante de que, pelo uso generoso de pontos de exclamação, ela poderia depreender que o pai estava curtindo aquele festival de tensão e maldades.
Estávamos todos, não?
Leia mais
"The voice Brasil" retorna nesta quarta com novidades
Dupla gaúcha é a vencedora do programa "Batalha dos cozinheiros"
Farpas e caretas: como o Twitter acompanhou o primeiro episódio de "MasterChef profissionais"
Achei eletrizante o primeiro episódio. Começou meio morno, embora de cara já desse para a gente simpatizar ou antipatizar com os 14 participantes, que, como o nome do programa diz, já contam com alguma experiência em cozinha profissional. Num lance BBB, incluindo mochila, eles foram, um a um, entrando no cenário: o skatista Marcelo, a tatuada Priscylla, o marrento Luiz Felipe – que, de gravata borboleta e boina, não hesitou em dizer que vai ganhar a competição –, Izadora, que promove jantares em sua própria casa (o "apartamento 8"), a triatleta Izabela...
Quebrado o gelo, a coisa pegou fogo: Ana Paula Padrão informou que haveria três eliminações! Três eliminações logo na estreia!
Por sorteio, os candidatos foram divididos em duas turmas, cada um com uma prova: Receitas Clássicas e Técnicas Culinárias. Na primeira, eles precisaram reinventar o talharim à carbonara. Não sei vocês, mas eu esperava um pouco mais de reinvenção – ironicamente, quem venceu foi quem menos se arriscou: Ivo, o mais experiente dos concorrentes (25 anos de cozinha).
O melhor da prova foi ver os jurados se soltando, paulatinamente – ou seria Paolatinamente? Porque foi depois que a chef argentina deu a senha, falando algo como "aqui nós vamos ser críticos", que ela, Fogaça e Jacquin mostraram a característica verve ferina.
Paola, com justiça, pegou no pé do pernambucano João, professor de cozinha, que resolveu servir uma maionese morna e se equivocou ao explicar a essência de um carpaccio – não é ser frio, mas ser cru.
– Temos de chamar as coisas pelo nome certo. Se eu te chamo de Pedro, tu não viria aqui, né? – cutucou a argentina.
Fogaça detonou a apresentação do prato de Priscylla:
– Tem cebolete pra dar e vender. Parece um ninho de passarinho. Tá tosco.
Vamos combinar: quando o FOGAÇA diz que seu prato está TOSCO...
Mas ela acabou se salvando – a primeira eliminada foi Eliane, de Cuiabá, que preparou uma massa empapada e ainda por cima, literalmente, colocou um pimentão que só tinha função decorativa. Rodrigo, que cometeu o erro de botar farinha no recheio de seu ravióli, e João ficaram de "recuperação"; foram mandados para o vestiário, onde aguardariam para realizar a terceira e última prova. Nos bastidores, rolou outra ironia. Priscylla recebeu bastante ajuda de Rodrigo, a quem definiu como um "belo cavalheiro". Pois bem: o gentleman arrependeu-se. Recriminou-se por ter dado duas mãos para a moça, o que acabou lhe tirando tempo e concentração.
A segunda prova, a das Técnicas Culinárias, consistia em preparar um peixe mediterrâneo. O cabeludo Dário, que tem uma tatuagem gigantesca no dorso, brilhou. Teve sua postura na cozinha muito elogiada e ouviu um único porém: tirar o caroço da azeitona. O francês Jacquin, em sua praia, deu azar: por duas vezes, pegou peixe com espinha. Uma das responsáveis foi Izadora, alvo do comentário mais maldoso da noite – e que não foi proferido por nenhum jurado. Do alto do mezanino, Priscylla babou fel:
– Ela é personal chef. Que nada mais é do que um cozinheiro sem emprego.
Bá!
A prova também rendeu o momento mais constrangedoramente engraçado da estreia. Fernanda deu "aula" de geografia gastronômica ao dizer que seu prato era mediterrâneo por ter presunto parma, muito usado na Espanha, e purê de baroa, bem francês. Três gafes em sequência: o presunto parma não é o jamón serrano da culinária espanhola; Parma, a cidade de sua origem, fica longe do Mar Mediterrâneo; e baroa, como disse o chef Jacquin, é encontrada na França no setor de importados. Fernanda acabou rodando, e Izadora e Marcelo foram para a recuperação.
E se o MasterChef Profissionais já estava bom, ficou melhor ainda na última prova: os quatro competidores tinham de servir um menu completo para 30 pessoas! O quarteto não mandou bem, tanto que: 1) Jacquin brincou que precisariam pedir delivery; 2) Ivo e Dário, os dois campeões da noite, desceram do mezanino para auxiliar; 3) vitelas e camarões crus voltaram das mesas. A graça, digamos assim, da prova era ver como os candidatos se portavam sob a pressão de um restaurante. João mostrou sua teimosia e sua arrogância, além de intrigar os jurados ao lançar mão de técnicas, no mínimo, estranhas. Tomou uma série de carraspanas da Paola. Izadora, acostumada a trabalhar sozinha e no seu próprio ritmo, sucumbiu. Atrasou o serviço (Paola pediu que ela se ligasse em uma tomada 220v), chorou e perdeu-se de vez quando Ivo chegou e começou a mandar nela (atitude que, de fato, achei ruim: diria mais, transpareceu machismo). Acabou sendo a terceira e última eliminada de um programa que começou bem para quem gosta de comida e de veneno – a promessa é de trutas e tretas!