
A comédia Better Things, que estreia no canal Fox Premium 1 nesta quinta-feira (10), às 22h30min, não segue a fórmula convencional. Suas cenas não provocam gargalhadas, tampouco envolvem humor físico, nem trazem um elenco engraçadinho, servindo de escada para um ator principal. A pegada é outra. Convida o telespectador para rir das ironias da vida com a história de Sam Fox (Pamela Adlon). Atriz de Hollywood que luta para firmar-se na carreira, ela é divorciada e cria, sozinha, três filhas. A graça, em muitas ocasiões, vem dos momentos desconcertantes pelos quais ela passa, ou de tiradas espertas, mas um tanto autodepreciativas. A narrativa também leva a uma bem-humorada reflexão da mulher contemporânea.
Já lançada no exterior em 2016, a primeira temporada que chega ao Brasil no canal a cabo traz dez episódios de 30 minutos cada, a serem exibidos um a cada semana. Por esse papel, Pamela Adlon está indicada ao próximo Emmy, o Oscar da televisão norte-americana, cuja premiação acontece no dia 17 de setembro. Ela concorre na categoria de melhor atriz em série de comédia.
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Porém, sua participação no seriado vai além de atuar. Better Things é uma produção semiautobiográfica, criada pela atriz em parceria com o ator, comediante e roteirista Louis C.K. (conhecido por estrelar a série de humor Louie). Com o seriado, Pamela esclarece que viver do entretenimento e ter um rosto conhecido não é sinônimo de glamour.
A personagem Sam batalha para pagar as contas. Dubla filmes de animação, empresta a voz aos comerciais, e tenta a sorte em novos seriados de TV, muitos dos quais não passam do episódio-piloto. A certa altura do programa, ela diz a um colega de estúdio:
– Aos 13 anos, eu já tinha gravado quatro pilotos fracassados.
Em outra cena, ao tentar consolar um jovem ator que fora despedido, ela dispara:
– Não chore. Você não vai chegar a lugar nenhum se não aprender a ser demitido.
Universo machista
No enredo, Sam é apontada como uma mulher "gostosa" por artistas novinhos e também pelos mais maduros. Ainda assim, isso seria insuficiente para um universo machista. Fica no ar um questionamento indireto se o fato de ter seios pequenos teria sido prejudicial para estabelecer-se na carreira.
Nos problemas da vida familiar, destaca-se a relação nada fácil com a mãe, Phyllis (Celia Imrie). Vizinha de condomínio, a septuagenária é um pouco conservadora, o que causa saias justas. A parte que mais demanda a atenção de Sam, porém, é cuidar das filhas sem a mínima participação de seu ex-marido. Em meio a dublar um desenho, desentupir o banheiro de casa e alimentar os dois cachorros, ela se dedica às garotas. Leva e busca o trio em vários compromissos, como as aulas de música da caçula Duke (Olivia Edward) ou as de futebol de Frankie (Hannah Alligood).
Com a filha Max (Mikey Madison) enfrenta embates constantes. A adolescente só quer saber de sexo e drogas, e chega a pedir à mãe que consiga uma receita médica para lhe comprar maconha. Alega que a erva seria limpa e orgânica.
Mesmo com toda a pressão para desempenhar seus papéis em casa e nos estúdios de gravação, Sam reserva alguns momentos para si. Encontra as amigas, com as quais não tem papas na língua, e está sempre aberta para flertes ou algo mais - ainda que seja para tirar sarro de si mesma no dia seguinte.
* Estadão Conteúdo