Nunca voltar para a antiga namorada, ensinava meu amigo Roque Fiori, quando éramos jovens. Talvez ele estivesse atento às leituras de Karl Marx que advertia: a história se repete primeiro como tragédia, e depois como farsa.
Lembrei do Roque e de Marx no segundo tempo do Gre-Nal de ontem, com a volta de Felipão. Quando o Inter, já vencendo por 2 a 0, perdeu dois gols, o narrador Pedro Ernesto, que tem o sentido do épico, adivinhou nosso medo do desastre trágico.
Leia mais colunas De Fora da Área
Leia mais notícias sobre o Gre-Nal 402
Não foram poucos os grandes heróis que desafiaram os astros e o irremovível postulado de Marx. Em 14 de junho de 1800, Napoleão Bonaparte venceu a batalha de Marengo: com 28 mil soldados conseguiu derrotar 40 mil austríacos melhor armados. Ali foi aberto o caminho para que Bonaparte se tornasse Imperador da França.
Com a soberba dessa e de outras vitórias espetaculares, em 1812, Napoleão invadiu triunfalmente a Rússia, mas tinha pela frente um adversário tão obstinado como o Inter de ontem, e o pouco que restou de seu exército derrotado fugiu às pressas atormentado pelo inverno. Entretanto, as derrotas, especialmente as derrotas mais fragorosas são amenizadas pela soberba que, afinal, nos mantém vivos. A vaidade fez a derrota para os russos parecer uma fatalidade; era mais fácil lembrar Marengo. E, no dia 18 de junho de 1815, desprezando as lições de Moscou, Napoleão encontrou o fim de sua carreira em Waterloo.
Felipão teve a coragem de colocar a prova seu imenso patrimônio de vitórias. Depois dos gloriosos anos 1990, no Grêmio, Palmeiras, Cruzeiro e na Copa de 2002 voltou para o desastre dos 10 gols a 1, nas finais de 2014. Esse revés, para ele, para a diretoria do Grêmio e, com certeza, também para nós torcedores, poderia ser esquecido, com a lembrança de triunfos dos anos 1990, que são, para nós, tão grandes como foi Marengo para Bonaparte.
Nossas orações, a partir de agora, são para que sejamos poupados de algo parecido com os dissabores do general Bonaparte na invasão da Rússia ou em Waterloo. A psicologia sugere que o pensamento mágico é uma sensação de controle e segurança: uma crença que o poder do pensamento pode interferir no mundo exterior.
Vamos reconhecer que, para nós gremistas, a volta do Felipão seria com uma avassaladora vitória gremista no primeiro Gre-Nal do novo Beira Rio. Não nos desesperemos: foi apenas uma derrota isolada do pensamento mágico. O campeonato é longo.
- Mais sobre:
- inter
- de fora da área
- pinheiro machado
- grêmio