Vanessa Kannenberg / Uruguaiana
Muito se fala em legado da Copa. A expressão está na boca, principalmente, de políticos e defensores do Mundial no Brasil. Virou até clichê. Estamos a pouco mais de um mês do início do megaevento e a dois meses do fim dele. Afinal, o que a Copa vai trazer de bom para os gaúchos fora de Porto Alegre?
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Após a escolha da Capital como uma das 12 subsedes, uma série de promessas começou a pipocar em municípios que desejavam hospedar uma seleção mundial. ZH apurou que, pelo menos, R$ 362,2 milhões foram cogitados em projetos de infraestrutura no interior do Estado, mas apenas 21% deste valor foi realmente investido.
O levantamento levou em conta obras prometidos para as 22 cidades gaúchas que se candidataram a ser Centro de Treinamento de Seleções (CT), mesmo aquelas que não foram escolhidas para o caderno da Fifa, e obras exclusivamente municipais ou privadas. Obras de mobilidade urbana previstas em rodovias federais e aeroportos, previstos pela União, não estão inclusos. As fontes das informações foram as prefeituras e o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul (Daer).
Após vistorias da Fifa, apenas 10 municípios foram aprovados, sendo que Caxias do Sul com dois CTs, totalizando 11 opções para as equipes. Ainda assim, apenas uma seleção, a do Equador, optou pelo RS durante a Copa. A escolha foi Viamão, na Região Metropolitana.
Dos 22 municípios candidatos a CT, 12 cogitaram realizar obras em virtude da Copa - algumas, como Rio Grande, Pelotas e Passo Fundo, por exemplo, desistiram da ideia por conta da distância da Capital. Outras caíram foram devido às grandes exigências da Fifa, é o caso de Capão da Canoa e Santa Maria.
Entre as 12 que levantaram hipótese de investimento, apenas oito realmente tiraram as obras do papel. Viamão está em entre elas, ainda assim, dos R$ 14,4 milhões previstos em investimento, menos de 40% foi executado.
O valor ainda não investido se refere a duas importantes obras. A primeira delas é o asfaltamento de quase 19 quilômetros entre Viamão e o bairro Lami, em Porto Alegre. Desse total, apenas os primeiros cinco quilômetros estão em obras e o restante está embargado pelo Ministério Público por atingir Área de Preservação Ambiental. Situação que a Procuradoria Geral do Estado está tentando reverter.
O outro investimento envolve sinalização turística, investimento de R$ 600 mil cujo valor foi captado junto ao Ministério dos Transportes, mas o município ainda não obteve aprovação junto à Caixa para abrir licitação. Ainda assim, a prefeitura garante que vai ser um legado da Copa, mesmo que vá ficar pronta depois do término do evento.
Um valor não computado é o do hotel que vai hospedar a seleção do Equador, o Vila Ventura, que investiu em ampliação e melhorias, mas não revela o montante aplicado. Outro investimento é a disponibilização de internet 4G, serviço oferecido por duas operadores e que não faz parte do levantamento.
Obras que não saírão do papel
Lajeado, no Vale do Taquari, é um dos 11 municípios que figuraram como opção final no caderno da Fifa. No entanto, o hotel de no mínimo três estrelas exigido pela federação, que inclusive consta no material distribuído para as seleções, não existe. A construção do Inn Italy Hotel partiu de um grupo de empresários e deveria estar pronto em janeiro deste ano, mas sequer saiu do papel. De acordo com a prefeitura, o município fez a sua parte, mas as construtoras não deram andamento ao projeto.
O mesmo aconteceu em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Assim como um empresário cearense pousou no campo do Avenida, anunciando um megainvestimento de R$ 100 milhões, que incluiria arena multiuso e um hotel com padrão internacional, ele decolou dois meses depois afirmando "fim do diálogo" com o clube.
Há exemplos positivos. Em Caxias do Sul, 100% das obras previstas pelo município estão concluídas ou quase lá. Tratam-se de melhorias no aeroporto Hugo Cantergiani, asfaltamento da Avenida Salgado Filho, acesso ao bairro Fátima e outros investimentos viários, totalizando R$ 76.3 milhões.
Gramado, mesmo sem ser escolhida por nenhuma seleção, deu seguimento à construção da Vila Olímpica e está com cerca de 80% da obra, orçada em R$ 10 milhões, concluída. Em Osório, a prefeitura deu continuidade a obras orçadas em R$ 5,4 milhões, incluindo um campo de futebol com pista atlética e um paradouro, mas abortou a construção de um hotel com teleférico por falta de autorização da Fepam.