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Enquanto o mundo estiver de olhos postos no Brasil para acompanhar a Copa do Mundo, um pequeno grupo de estrangeiros percorrerá o país para ter um vislumbre dos Jogos Olímpicos.
Sobressaltados com a letargia das autoridades locais e com o acúmulo de atrasos nas obras, integrantes da cúpula do Comitê Olímpico Internacional (COI) programaram-se para vir ao país, avaliar se os brasileiros demonstram capacidade de promover um grande evento e identificar falhas a ser evitadas nos Jogos de 2016. A Copa será uma espécie de evento-teste para as Olímpiadas do Rio.
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Entre os que confirmaram presença estão o presidente do COI, Thomas Bach, e o diretor-executivo, Gilbert Felli. Um eventual fiasco do país na Copa teria como efeito levá-los a disparar os alarmes para 2016. A preocupação tem justificativas. Especialistas observam que organizar os Jogos Olímpicos representa um desafio bem maior do que sediar um Mundial de futebol.
- A Copa são 64 jogos ao longo de um mês, em 12 cidades. A preocupação é fazer as partidas nos estádios e acabou. Nos Jogos Olímpicos, são 23
campeonatos mundiais ocorrendo em simultâneo no mesmo lugar, com milhares de horas de transmissão de TV e um número muito superior de atletas. Por isso o COI está tão apreensivo - diz a doutora em estudos olímpicos Ana Miragaya, professora da Universidade Estácio de Sá.
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Na verdade, a mobilização da entidade já começou. No final de abril, o australiano John Coates, vice-presidente do COI, fez críticas pesadas aos preparativos do Rio, afirmando que são os piores que ele já viu. A repercussão foi tão forte que o dirigente teve de se retratar, mas o recado estava dado. Dias antes, a entidade havia promovido uma espécie de intervenção, anunciando uma série de medidas para ocupar um lugar mais central no comando das obras, incluindo o envio de Felli para temporadas no Brasil.
- Não vamos ao Brasil ver o passado ou apontar os culpados. Mas queremos ajudar a tomar decisões - afirmou o diretor-executivo.
COI está preocupado, analisa especialista
Habituados às reclamações e xingamentos de Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, os brasileiros podem considerar normal a atitude do COI. Mas Lamartine da Costa, que leciona na University of East London (Reino Unido) e integrou grupos do comitê olímpico, afirma tratar-se de algo raro.
- A declaração do vice-presidente é uma coisa que nunca vi antes. Foi um tiro no pé da instituição. A intervenção branca que ocorreu não tem precedentes e indica que a preocupação é grande.
Para Lamartine da Costa, o Brasil falhou em não transformar os Jogos em uma prioridade nacional - a Austrália chegou a criar um ministério específico para tratar de Sidney 2000.
- Não fizemos isso. Os Jogos não são mais uma oportunidade. Agora, são uma corrida para salvar a imagem do país - diz Lamartine
Os custos
O orçamento atual dos Jogos Olímpicos do Rio soma R$ 36, 7 bilhões
Veja a estrutura anunciada pelas autoridades
1) Verba operacional
Quanto: R$ 7 bilhões
O que é: É o dinheiro que banca as despesas da realização da competição, como hospedagem, refeições, uniformes e material esportivo
Quem paga: O comitê, a partir de verba privada, obtida pelos patrocínios
2) Matriz de responsabilidade
Quanto: R$ 5,6 bilhões
O que é: É o valor gasto na construção de instalações necessárias para a realização dos jogos, como arenas esportivas
Quem paga:
Setor privado, via PPPs: 4,18 bilhões
Setor público: 1,5 bilhão
3) Obras de legado
Quanto: R$ 24,1 bilhões
O que é: É o valor de obras que não têm relação direta com os Jogos e que trariam benefício para toda a população, como metrô, BRT, revitalização do porto e piscinões}
Quem paga:
Setor privado, via PPPs: 10,3bilhões
Setor público: 13,8 bilhões (R$ 1,3 bilhões do governo federal, R$ 3,9 bilhões da prefeitura, R$ 8,6 bilhões do governo estadual)
Valor total: R$ 36,7 bilhões