
É preciso olhar para além do anúncio dos 23 convocados de Luiz Felipe Scolari. Sim, por que Felipão jamais deu ponto sem nó. Nem quando andava de fusca e chapéu de cowboy em Caxias, que agora a Fifa chama a nós, gaúchos, de cowboys do Brasil.
OPINE: o que você achou da lista de convocados de Felipão?
INFOGRÁFICO: a avaliação do momento de cada convocado
Não era apenas um técnico a divulgar os escolhidos para vencer uma Copa do Mundo em casa e obter, da história, alta do divã de 1950. O que se viu foi um regente de orquestra empenhado em executar uma partitura conhecida e de sucesso. Ou um mago melhorando a própria poção. Prefiro a mistura destas duas ideias, do cientista e do feiticeiro.
Felipão é uma mistura. Tem lá os seus defeitos. Nem sempre é gentil e compreensivo. Mas é um cérebro de inteligência específica rara, com matizes intuitivos precisos, para todos os aspectos que envolvem a construção de um time. Está claro: ele tem uma fórmula para ser campeão do mundo. Fez uso dela em 2002. Planeja envolver o Brasil numa grande corrente popular, para além do protagonismo de Neymar. Daí o bom humor e a iniciativa de lembrar dos treinos fechados por ordem da Fifa nos estádios.
Em Fortaleza, na Copa das Confederações, uma multidão cercou o Presidente Vargas antes do jogo com o México. Não podia, mas Felipão deixou o povo entrar ao menos para os jogadores acenarem. Levou uma dura da Fifa, que ameaçou com multa. Como pretende manter a melhor relação possível com jornalistas (a de Dunga em 2010 não foi das mais amistosas) e a população, vacinou-se de críticas.
Outro ingrediente é blindar a Seleção do clima de oba-oba. Difícil. Somos um país que adora oba-oba por natureza. Por isso a reforma da Granja Comary, onde será possível controlar o assédio aos jogadores, regular o contato destes com jornalistas e reforçar os laços da Família Scolari. Serão 15 dias de preparação. Felipão soltará ou apertará as rédeas do calor popular quando achar conveniente durante a Copa, indo e voltando para a Granja.
Ao parar de chamar Ronaldinho, o recado foi similar ao de Romário em 2002. Ou morde o garrão e sua sangue ou está fora - e isso vale para todos. Pode ser coincidência, mas Neymar foi o jogador que mais cometeu faltas na Copa das Confederações. Fez gols, mas também marcou muito. O império da meritocracia está mantido. Lucas era o queridinho da torcida. Teve chance e falhou. Fora. Bernard e Hulk eram patinhos feios, mas jogaram para o time. Dentro. E tem a cota pessoal do chefe.
Se em 2002 Felipão apostou em Ronaldo e Rivaldo bixados (esta é antiga), agora há Júlio César, titular jogando no Canadá. E Fred, cuja média de gols desabou no Fluminense. A Seleção começa e termina com eles, e eles morrerão por Felipão. Henrique é homem de confiança dos tempos de Palmeiras, um 3 em 1: zagueiro, volante e lateral.
Não houve surpresas por que ninguém queria ou esperava surpresas. É como se as ruas aconselhassem, em vez de reclamar esta ou aquela ausência: "Não incomodem o Felipão: deixa que ele resolve lá do jeitão dele". Aquele Felipão sorridente e olhares cúmplices, ontem, sabia muito bem de tudo isso. Já começou a reger a orquestra. Ou a mexer a fórmula do caldeirão.
As caras e bocas de Felipão durante o evento da convocação:
Veja imagens dos convocados para a Copa do Mundo:
* zhEsportes