
Maior campeão, único a participar de todas as Copas e time com mais vitórias e mais gols no torneio, o Brasil corre sério risco de ver derrubada, em casa, uma de suas marcas históricas. O recorde de Ronaldo, 15 gols em Mundiais, está por um fio. O polonês naturalizado alemão Miroslav Klose soma 14 e vem jogar sua quarta Copa.
É verdade que o centroavante da Lazio não é titular na equipe treinada por Joachim Löw e que a Alemanha está no encardido Grupo G, com Portugal, Gana e EUA (comandada, curiosamente, por outro alemão goleador em Mundiais e antecessor imediato de Klose na seleção germânica, Juergen Klinsmann, 11 tentos entre 1990 e 1998).
Mas o jogador de 35 anos desembarcará no Brasil mirando esse número mágico, ainda que, em nome da diplomacia interna, dilua sua meta pessoal naquele papo politicamente correto de "sucesso da equipe".
- Claro que este é um grande objetivo para mim. Mas não é a única coisa a me motivar na Copa - disse Klose no centro de treinamento alemão, em San Leonardo, no norte da Itália, quase fronteira com a Áustria. - Mais importante do que os meus objetivos é o sucesso da equipe. Espero ser capaz de ajudar com os meus gols.
Pois a equipe está disposta a retribuir. O atacante Thomas Müller falou sobre o assunto:
- Espero que ele consiga bater o recorde. Isso significaria que Klose marcaria pelo menos duas vezes no Brasil. Quero ajudá-lo com algumas assistências.
E Ronaldo, que nada pode fazer a não ser secar, o que pensa da ameaça? Na mesma fatídica entrevista à agência britânica Reuters em que se declarou "envergonhado" pelo atraso nas obras da Copa, o integrante do Comitê Organizador Local comentou:
- Não vou fazer um grande esforço (para torcer contra Klose). O que fiz está na história e ninguém tira. Se ele for capaz de fazer mais gols do que eu, é mérito dele. Não vou secar muito, vou acompanhar, curtir a Copa. Não tenho nenhuma pretensão de que esse recorde fique para o resto da vida.
Os quatro maiores goleadores das Copas
Se Klose destronar Ronaldo no Brasil, concretizará uma espécie de vingança poética para os alemães. Ronaldo marcou o icônico 15º gol na Copa da Alemanha, em 2006, quebrando o recorde de 32 anos de outro alemão, o atacante Gerd Müller.
Nosso camisa 9 entrou para a história aos cinco minutos das oitavas de final contra Gana. Lançado por Kaká às costas da zaga africana, o Fenômeno deixou o goleiro Kingson sentado e abriu a vitória por 3 a 0.
Camisa 11 da Alemanha, Klose se igualou a Gerd Müller ao fechar a goleada de 4 a 0 sobre a Argentina, nas quartas de final da Copa de 2010. Recebeu cruzamento na área e bateu de primeira, sem chances para o goleiro Romero.
O 14º gol de Müller, o "Homem-Bomba", foi justamente o gol do título de 1974, na virada de 2 a 1 sobre a Holanda. Hoje com 68 anos, o célebre camisa 13 vive recluso na mesma Munique onde se consagrou. Há três anos não dá entrevistas.
Quarto goleador das Copas, à frente até de Pelé (o quinto, com 12 gols), o francês Just Fontaine mantém um recorde que, esse sim, dificilmente será batido. Anotou seus 13 gols em um único Mundial, o de 1958. Para comparar: desde 1974 o artilheiro de uma Copa não alcança dois dígitos (Ronaldo foi quem chegou mais perto: oito gols em 2002).
Fontaine, nascido há quase 81 anos em Marrakesh, no Marrocos, será convidado de honra da Copa no Brasil. Em 11 de junho, durante o congresso da Fifa em São Paulo, receberá, pelos feitos na Suécia, a Chuteira de Ouro, prêmio instituído pela Adidas em 1982.