
Em abril, Gilberto Bittencourt Viégas, 28 anos, assumiu uma negociação até então comandada pelo ex-líder da Guarda Popular, Hierro Martins: abrigar, durante a Copa do Mundo, torcedores da Hinchadas Unidas Argentinas (HUA), uma associação de torcidas conhecida no país vizinho pela violência e por relações promíscuas com políticos e governos.
Autoridades temem ação de barrabravas em meio a protestos durante a Copa em Porto Alegre
Tentando se fortalecer no comando da Guarda atualmente, Giba do Trem é conhecido da Justiça gaúcha: foi impedido de entrar em estádios após agredir um guarda municipal em Novo Hamburgo, em setembro do ano passado.
A ZH, o líder colorado - que diz se sustentar com venda de roupas em parceria com a mulher - afirmou já ter um ginásio alugado em Sapucaia do Sul, onde mora, outro em negociação e uma série de vagas em casas de torcedores do Inter para receber um grupo entre 300 e 500 argentinos. Segundo ele, já há cerca de 15 hermanos vivendo na região metropolitana de Porto Alegre, à espera do Mundial.
A influência de Giba é relativizada por autoridades. Comandante de Policiamento da Capital (CPC) e do Batalhão Copa, o coronel João Diniz Prates Godói sustenta que a Brigada Militar estará pronta para agir e que não há informações concretas sobre a presença de torcedores argentinos no Estado:
- Não procuramos ele porque não o temos como liderança constituída para fazer esse tipo de interlocução. Temos consulado, embaixada e estrutura de segurança para dar o melhor atendimento aos turistas, inclusive os que se dizem barrabravas.
Confira trechos da entrevista concedida por Giba na semana passada em um pequeno shopping de Sapucaia do Sul. O encontro foi acompanhaoa por um torcedor colombiano, um argentino e por um advogado que não se identificou.
Quem é o seu contato na Hinchadas Unidas Argentinas (HUA)?
Pablo Alvarez, conhecido como Bebote. É um líder da torcida do Independiente. Através dele tivemos acesso a várias torcidas que tem relação com a HUA.
Quantos torcedores virão?
De 300 a 500.
Onde vão ficar?
Em um ginásio alugado por mim. É o ginásio Comercial.
De onde vem o dinheiro para hospedá-los?
É uma mobilização da torcida, com venda de materiais, viagens. Estamos mobilizados há bastante tempo para traze-los e recebe-los da melhor forma.
Você falou ao Olé que tem envolvimento com políticos locais.
Foi um tratado inusitado do jornal argentino. Não falei em nenhum momento que tinha envolvimento político, foi um equívoco da parte deles. Eu fui aos políticos de Sapucaia do Sul vindo da Argentina para cá, para tratar da locação de alguns lugares, para ter mais opções. E ter mais de um lugar.
Você tem ingressos para a Copa?
Nada.
Eles vem com ingresso?
Eles vêm.
Quantas pessoas cabem nesse ginásio?
Cento e cinquenta.
E os outros, onde ficarão?
Em casas.
Como eles vão pagar a estadia?
Não tem nada definido, não vai ter nada de gasto da parte deles (o advogado intercede: são amigos de lá. Se fossemos para lá, nos dariam abrigo também).
Como eles vão se manter aqui?
Alguns virão e daqui vão para jogos no Rio e em Belo Horizonte. Mas eles vão priorizar o jogo do Rio Grande do Sul.
A HUA é conhecida pela violência. Você não tens receio de episódios de violência aqui?
Acredito que não vai haver delitos por parte deles. Posso deixar em aberto, não está longe de acontecer, mas eles estão conscientes que está todo mundo em cima deles. Eles estão conscientes de que, se causarem isso, vão ficar mais mal falados ainda. Eles vem agregar e fazer o papel de bom exemplo e passar uma boa imagem.
A polícia já procurou você?
Até onde eu sei, não.
Nenhum órgão de segurança o procurou?
Nenhum órgão de segurança me procurou.
Qual a sua relação com Bebote Alvarez?
Não passa de uma amizade com torcidas, como todas as torcidas tem.
Os torcedores da HUA não estão com receio da fiscalização das autoridades?
Minha parte é só receber eles.
O deslocamento deles para os jogos vai ser pelo trensurb?
Se for de metrô, vão estar orientados. Se for de ônibus, vão estar orientados.
Há preocupação de que os barra bravas promovam badernas em manifestações.
São povos diferentes. Como eu não posso ir na Argentina tratar dos assuntos políticos deles, eles não têm direito nenhum. Quem tem de resolver nossos problemas somos nós mesmos.
Se a polícia pedir uma lista desses torcedores, você tem?
Não tenho, é incerta a quantidade de pessoas que vão vir. No momento que eles saírem do alojamento, posso informar à polícia sem problema. Estou disposto a colaborar com a polícia.
Há torcedores colombianos também?
Somos amigos do América de Cali.
Vão ser necessários muitos colchões para receber esses torcedores no ginásio. De onde sairão esse colchões?
Estamos fazendo uma mobilização entre nós e outros meios, que ainda é incerto, mas está para vir uma demanda de colchões.
Que meios?
(advogado intercede novamente: um projeto com o Ministério do Turismo).
Que projeto é esse?
(advogado: para recepção de turistas. De Brasília, eles entraram em contato sobre o que nós precisávamos. E que mandássemos um projeto para eles aprovarem. Eles querem que atendam bem os turistas).
Ligaram para oferecer ajuda?
(advogado: perguntaram o que poderiam fazer para recebermos bem os turistas. Mas é mais questão de acesso a hospital, de segurança).
* Procurada, a assessoria de imprensa do Ministério do Turismo afirmou que a pessoa citada por Giba como responsável pelo contato em nome do órgão não trabalha no ministério.