O chapelão azul e branco de Honduras tem 15 anos. Uma vez, Douglas Cáceres Martínez, 35 anos, chegou a resgatá-lo do lixeira da rua, ao saber que tinham colocado fora seu amuleto da sorte. Neste domingo, não adiantou ir ao Estádio Beira-Rio com o acessório. A seleção hondurenha, "La H" (se pronuncia "a-tchê"), levou três gols da França.
Desanimado e reclamando da arbitragem, o médico hondurenho, que mora há dois anos em Assunção, capital do Paraguai, avalia que uma derrota para a França não é tão ruim. É o adversário mais forte desta fase - sua equipe enfrentará ainda Equador e Suíça.
Martínez chegou a Porto Alegre na noite de sexta-feira, sem ingresso para a partida deste domingo. Sábado, foi conhecer o Beira-Rio e ver se conseguia comprar um ingresso. Foi dia de muita caminhada, sob a chuva fina, em que andou também de ônibus e lotação.
- Gosto de viver a cidade - conta, em passos rápidos.
Chegando ao Beira-Rio, fez um "reconhecimento de campo" pelo lado de fora. Para pedir indicações, Martínez conseguiu se virar com inglês básico e espanhol. Como não era possível comprar ingressos ali, decidiu ir para o BarraShoppingSul (mas foi um pouco difícil entender o nome do lugar).
Ao atravessar ruas e avenidas, todos os carros reduziram a velocidade para que o hondurenho passasse. Até mesmo fora da faixa de segurança, os motoristas foram pacientes e não buzinaram. No centro de ingressos no BarraShoppingSul, Martínez recebeu a notícia que já temia: não havia mais ingressos para o jogo.
Sem achar um lugar para ver o jogo Colômbia x Grécia, foi para a fan fest. O público era reduzido, porém, animado. Argentinos, colombianos, mexicanos e uruguaios ostentavam muitas bandeiras e camisetas. Lá, o hondurenho assistiu a Uruguai e Costa Rica e a Inglaterra e Itália. À noite, se deixou contagiar pela concentração de torcedores hondurenhos na Rua General Lima e Silva, na Cidade Baixa, e ficou por lá até a madrugada.
- Todos estavam cantando, se divertindo, mesmo sem se conhecer. Foi quando me dei conta de que a experiência será inesquecível. Mesmo quem não vê sua seleção jogar já se emociona, imagina para quem se classificou. É o maior evento mundial, e estou aqui, no meio disso tudo.
Cambista queria R$ 950, ele comprou por R$ 400
Neste domingo, foi direto ao estádio. Ao chegar, dois cambistas disseram que o ingresso que ele queria, na lateral, estava sendo vendido a R$ 950 - ainda dentro da cota máxima que ele havia estipulado para pagar, de R$ 1,5 mil. Mais adiante, encontrou por R$ 400 e comprou. Mais tarde, lhe ofereceram por R$ 200. Mas aí era tarde demais.
Passada uma boa noite de sono após o jogo, nesta segunda e terça-feira ele vai passear pela cidade, que ele considera bem organizada, e, à tarde, se juntar a torcedores na fan fest. Se der, ainda vai encaixar uma ida à churrascaria no seu cronograma. Na quarta-feira, viaja a Curitiba, onde "La H" joga contra o Equador.
- Como diz a campanha oficial da seleção de Honduras, aí sim, "Vamos con todo papa" - afirma, esperançoso.