Os franceses Julien Pelletier e Yassir Saki chegaram na sexta-feira a Porto Alegre um tanto tímidos, reticentes, quase desconfiados. No sábado à noite, rebolavam algo que consideram ser samba ao som de uma bateria e devidamente acompanhados por passistas da escola Império da Zona Norte.
É claro, tudo isso movido a caipirinhas. Cada um deles sorveu entre oito e nove caipirinhas no espaço de cinco horas, sem comer uma batata frita.
- Merci, merci, Porrto Alegrrre - agradeciam com os braços jogados para o alto, enquanto tentavam seguir os passos das dançarinas do grupo show de samba.
A cena inusitada na fan fest promovida para acolher os franceses no Chalé da Praça XV é a melhor imagem da passagem da dupla pela cidade. Teria mais: após o Chalé, a dupla continou a noite em uma danceteria no Bom Fim, até aparecer os primeiros efeitos dos litros de caipirinhas. Julien se sentiu mal e teve de abortar subitamente a festa para se recolher ao hotel.
Julien, 30 anos, é alto funcionário de um banco na cidade de Clermont-Ferrand, centro da França, perto de Lyon, onde mora Yassir, gerente de uma empresa de transporte ferroviário. São amigos de infância e acompanham Les Bleus pela segunda vez. Nunca tinham ouvido falar em Porto Alegre. Sabiam que chovia e que fazia mais frio do que no Rio de Janeiro. Mas desembacaram de bermudas e logo foram à procura de táxi.
O motorista argumentou que, àquela hora, às 19h30min, o trajeto do aeroporto até o Hotel Ritter, perto da Rodoviária, levaria mais uma hora. Talvez fosse melhor aguardar na fan zone do aeroporto ou tomar o trem. O taxista foi correto, e a dupla seguiu ao Trensurb em direção ao Centro.
Quase passaram da estação, eles não se preocuparam em saber sobre a estação a descer - nem há indicativos em inglês. O outro entrave foi ao sair. Passaram alguns minutos cotejando o mapa da cidade com o do celular. Também ali nada há em inglês, e isso dificultou. Mas recorreram à mímica com os passageiros e chegaram ao Ritter.
Dupla sambou com passistas de escola
Foram à pé à Praça XV no sábado. Não lembram de como saíram de lá.
- Caipirinha é a melhor coisa do mundo - repetiam, acompanhados de outros franceses enlouquecidos, alguns já sob o efeito da mistura com chope.
É claro que o domingo não teria manhã. Quando acordaram, franceses do hotel e da Casa Bleue já haviam saído para o jogo no Estádio Beira-Rio. Julien e Yassir, não.
A dupla ainda queria conhecer mais de Porto Alegre, essa desconhecida, e os dois foram ao Brique da Redenção. Com chapéu de Pierrot e cores da França, os dois avançaram sobre a José Bonifácio soando uma corneta em forma de taça do mundo e aos gritos de "Allez les Bleus". Pararam a José Bonifácio.
Tiraram fotos com meio mundo e reconheceram, meio ironicamente, que o Movimento ao Expedionário se parece com o Arco do Triunfo de Paris. Quase perderam o horário de ir para o estádio.
À noite, após a vitória sobre Honduras, voltariam ao Chalé.
- Sem caipirinhas. Não aguentamos mais.