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De avião, ônibus, carro, motor-home e tudo mais que se mova, uma multidão de torcedores argentinos prepara uma invasão sem precedentes ao território gaúcho. Os primeiros integrantes da onda azul e branca criada pela Copa já estão na Capital, mas nos próximos dias o fluxo de hermanos deverá alcançar um patamar histórico superior a 50 mil pessoas. Não há registro recente de uma multidão tão grande, saída de um único país, para um evento específico no Estado.
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Todos os anos, milhares de turistas do Prata cruzam a fronteira em busca das praias brasileiras - mas se distribuem ao longo de vários meses e se espalham pela costa. Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude do ano passado, uma cifra próxima de 50 mil argentinos ingressou no Estado, mas apenas de passagem para o evento no Rio. Durante o Fórum Social Mundial de 2005, quando 155 mil pessoas participaram do encontro, a maior delegação estrangeira também era argentina. Mas um dos organizadores, Jeferson Miola, afirma que a presença dos vizinhos não chegava "nem perto" da expectativa atual.
- Essa é a primeira oportunidade que deveremos ter de receber tanta gente de um mesmo país para um evento - avalia o secretário estadual do Turismo, Márcio Cabral.
É difícil prever quantos torcedores da "celeste y blanca" viajarão a Porto Alegre para o jogo contra a Nigéria, na quarta-feira. Cerca de
18 mil argentinos compraram ingressos, e a Fifa estima que pode haver, em média, dois acompanhantes sem acesso ao estádio para cada turista com bilhete - o que resultaria em 54 mil viajantes. Mas a imprensa argentina acredita que essa cifra possa ser ainda maior: o jornal
La Nación estima que até cem mil turistas poderiam aproveitar o clima do Mundial no Estado motivados pela proximidade geográfica.
Parte deles já está no Brasil, como os cerca de 50 mil que ocuparam o Rio no jogo de estreia. Outra fração está atravessando a fronteira. Conforme a Polícia Federal, desde 1º de junho, 22,4 mil estrangeiros já ingressaram no Brasil pelos sete pontos de fronteira no Estado e pelo aeroporto Salgado Filho. Desse total, a maior parcela é de argentinos - 8,6 mil pessoas (38,4%). Como resultado dessa migração, a ocupação na rede hoteleira de Porto Alegre, que se encontra atualmente em cerca de 50%, deverá se aproximar do esgotamento em seus 10 mil apartamentos.
- Acreditamos em algo superior a 95% de ocupação. Só não deve chegar a 100% porque os argentinos conhecem bem o Estado e muitos poderão procurar acomodações alternativas, como casas e campings - afirma o presidente do Sindicato de Hotéis de Porto Alegre, Carlos Henrique Schmidt.
O impacto na hospedagem deverá se estender a um raio de cem quilômetros da Capital, segundo a Secretaria Estadual do Turismo. Em Osório, um camping no Parque de Rodeios Jorge Dariva deverá receber 150 motor-homes. A maioria deverá ser de argentinos.
Os números da ocupação
18 mil argentinos compraram ingressos para ver o jogo de quarta-feira.
54 mil viajantes da Argentina são esperados pela Fifa, mas a imprensa local aposta em até cem mil.
27 voos extras estão previstos da Argentina para a Capital gaúcha.
17 ônibus lotados chegarão entre sábado e segunda-feira, em vez de os seis habituais.
À espera de reforço
Marcelo González, 41 anos, dirigiu por 30 horas, desde Córdoba. Veio com um amigo e com diversas entradas para Argentina x Nigéria. Pretende bancar a viagem com os bilhetes adquiridos no site da Fifa que espera vender na fan fest, durante Argélia x Coreia do Sul, domingo.
- Você acha que R$ 100 por ingresso é um preço justo? - perguntou a outro torcedor argentino, que havia chegado uma semana antes à capital gaúcha.
- Acho que sim - respondeu.
Por enquanto, González dormirá no carro, pois ainda não conseguiu hotel. Torcedor do Talleres, ele aguarda reforço:
- Porto Alegre vai virar uma cidade argentina. Muitos já chegaram e milhares virão depois do fim de semana.
Sem ingresso, mas feliz
Uma rápida caminhada pela fan fest de Porto Alegre e se tem a impressão que Córdoba é a cidade que mais enviou argentinos. O perito Domingo Torres, 47 anos, tem ingresso para Coreia x Argelia.
- O bonito do Mundial é essa integração entre as pessoas. Isso é a Copa, não apenas um jogo.
Torcedor do Belgrano, ele foi ao Rio para a estreia da Argentina. Sem ingresso, fez amizade com uma família carioca e assistiu ao jogo com ela, sobre uma laje, na comunidade do Boa Ventura.
- Assisti à Argentina comendo frango e chuleta com eles. Tentei pagar, não aceitaram. E ainda me deram uma manta do Brasil. Fiquei comovido. Nem na Argentina nos tratam tão bem - explicou o perito.
Para celebrar o Mundial
O comerciário Diego Borfch, 27 anos, chegou de Buenos Aires na sexta. Veio de avião, com três amigos. Exibindo uma peruca, que mais parecia uma releitura do cabelo do colombiano Valderrama, e com uma bandeira da Argentina às costas, ele quicava ao som de rappers na fan fest. A latinha de cerveja na mão e os alaranjados óculos de sol resumiam o que será a Copa do hincha do Boca Juniors:
- Vamos celebrar o Mundial, o futebol, a cerveja e as mulheres.
O portenho acredita que a maioria dos patrícios virá em paz:
- Essa má fama é culpa dos barrabravas. Mas espero que não venham, todos estão se divertindo.