
No vestiário do Serra Dourada, antes da tradicional reza após a goleada por 4 a 0, o técnico da Seleção Brasileira fez um agradecimento especial, de mãos dadas com os jogadores dispostos em círculo, conforme o costume do universo da bola:
- Graças a Deus, ninguém se lesionou. Vamos adiante na nossa caminhada.
No amistoso contra a Sérvia, hoje à tarde, esta é a preocupação principal. Se encerrar o jogo sem baixas para a estreia do dia 12 diante da Croácia, é a conta. Perguntei a Felipão, na entrevista concedida logo após o treino no qual Willian ocupou o lugar de Oscar - o ex-jogador do Inter foi liberado para o nascimento da filha, Júlia, em Campinas (SP) _, se havia encarado adversário tão difícil às vésperas de suas três Copas, pela Seleção e Portugal. Ele relaxou a guarda e admitiu:
- Eu queria ter invertido a ordem dos amistosos. O ideal era pegar primeiro a Sérvia, e depois o Panamá. Prefiro sempre enfrentar o mais fraco na porta da estreia. Mas não deu, por questão de agenda. Paciência _ revelou Felipão para, em seguida, meneando a cabeça, gesticulando, compondo as caretas de sempre, suspirar:
- A Sérvia é viril. Vamos ver se nada acontece.
"Vamos ver se nada acontece", diz Felipão. Com justificada preocupação.
Em 2002, vale lembrar, ele perdeu Emerson no treino, tendo de alterar seus planos de equipe. Para esta Copa, a bruxa anda solta, com várias lesões mundo afora. Dá uma certa apreensão. É preciso exercitar a marcação sob pressão na saída de bola, a famosa blitz que tonteou inimigos na Copa das Confederações, levando-os ao nocaute antes que pudessem ajeitar o calção do uniforme.
A blitz não aconteceu contra o Panamá, tornando o amistoso traiçoeiro até o gol de Neymar, a 26 minutos. Diante da Sérvia será preciso mais choque, mais esforço, mais contato, mais tudo. Do contrário, a Seleção pode tomar o gol, e todos sabemos o que isso significa em São Paulo, onde a torcida não tem receio de vaiar. O amistoso com a Sérvia encerra um dilema: colocar a faca entre os dentes e, ao mesmo tempo, cuidar o risco de lesão.
Daí os dois recados de Felipão. O primeiro, para Neymar:
- Como é que vou pedir para um cara como ele não driblar? Nem tenho este direito. Ele tem de ir para cima e driblar mesmo.
O segundo pedido é para o árbitro:
- Que o juiz fique atento e não deixe a virilidade se transformar em outra coisa.
Ao final desta sexta-feira, mais do que alcançar a meta de encerrar a preparação em lua de mel com a torcida, a Seleção pensa na reza pós-jogo. A glória suprema é ir para a folga de sábado com um agradecimento em definitivo ao Criador, pela bênção de proteger músculos, ossos e ligamentos dos jogadores brasileiros antes da estreia.
Amém.
Amistoso - 16h - Morumbi
Brasil: Júlio Cesar; Daniel Alves, Dante (Thiago Silva), David Luiz, Marcelo; Luiz Gustavo, Hernanes; Hulk, Oscar (Willian) e Neymar; Fred.
Técnico: Luiz Felipe Scolari
Sérvia: Stojkovic; Kolarov, Basta, Ivanovic, Mitrovic; Matic, Gudelj, Tosic, Tadic; Dordevice Markovic.
Técnico: Ljubinko Drulovic
Local: Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi), em São Paulo (SP).
Arbitragem: Enrique Cáceres, auxiliado por Darío Gaona e Milciades Saldivar.
Transmissão: RBS TV e SporTV transmitem. A Rádio Gaúcha abre a jornada às 15h30min