Suárez é centroavante.
Dizer que um jogador é centroavante é mais do que definir sua posição. É fazer-lhe elogio. Porque centroavante não é apenas substantivo; é adjetivo. Não. Melhor: centroavante é verbo. Centroavante faz acontecer.
Nesta quinta-feira, Luis Alberto Suárez Díaz fez acontecer. Suárez foi o verbo, e o verbo pairou sobre a grama verde-escura do Itaquerão, e, em 90 minutos, construiu a vitória do Uruguai sobre a Inglaterra por 2 a 1, e o Uruguai ressuscitou dos mortos, e tem chances de seguir vivo na Copa do Mundo, assombrando outros incautos participantes.
Uma vitória digna da melhor tradição da (agora justíssima) camisa celeste. Até porque o adversário era tão tradicional quanto, e igualmente poderoso: o English Team, dos inventores do futebol, tinha a autoridade de Gerrard, a habilidade macia de Sterling e o oportunismo de Rooney.
Mas o Uruguai, ao contrário da fracassada partida contra a Costa Rica, chegou remoçado ao Itaquerão, em São Paulo. Os velhos Lugano e Forlán descansavam melenas louras no banco de reservas - o primeiro por dores no joelho. Mais jovem, mais atento, sabendo-se diante de um jogo de vida ou morte, o Uruguai marcou a Inglaterra em cima desde o começo, não permitindo que os alas ingleses jamais fossem ao fundo do campo.
A melhor oportunidade da Inglaterra ocorreu aos 9 minutos, quando Rooney cobrou uma falta que só não foi perfeita porque não entrou; saiu a três dedos do travessão. Aos 15, Cristian Rodriguez respondeu com um canhotaço por cima do gol. A meticulosa marcação uruguaia tornou árido o time inglês. Nada acontecia.
Aos 30, Rooney acertou uma cabeçada no travessão. Será que ele passaria mais uma Copa do Mundo, a terceira da sua carreira, sem marcar um único gol? Era o que a história do jogo dava a entender.
Suaréz saiu carregado nos ombros. Merecido
Aos 38, luziu pela primeira vez a estrela do centroavante. Num contragolpe veloz, a bola caiu no bico esquerdo da área inglesa, nos pés de Cavani. Suárez corria pelo meio, olhando para o lance. Imiscuiu-se num desvão às costas dos zagueiros. Cavani levantou a bola. E Suárez meteu-lhe a cabeça: 1 a 0 para o Uruguai.
No segundo tempo, o Uruguai voltou ainda melhor, dominando a partida, cercando a área do time da rainha. Só que a Inglaterra reagiu como se Churchill tivesse feito o chamado à nação: "We shall never surrender!" Nós nunca nos renderemos, pareciam gritar os britânicos, que aos poucos retomaram o domínio da partida. Aos 8, Rooney, sozinho na área, chutou e Muslera defendeu como se fosse um Ochoa. A Inglaterra subia pela esquerda e pela direita. Numa dessas, pela direita, a bola foi cruzada rasteira e ele, Rooney, finalmente fez seu gol. Festa no Reino Unido!
O English Team dava mostras de que caminhava para a salvação. Só que, aos 39, Muslera deu um balão da sua área, a bola atravessou todo o campo e caiu nos pés dele. Do centroavante. Suárez dominou, enquadrou o corpo e atirou todos os seus 81kg de peso no peito do pé direito. A bola saiu fulminante de sua chuteira em direção à rede. Se pegasse na testa do goleiro o levaria a nocaute. Suárez saiu correndo e chorando para comemorar o gol. Quando o jogo terminou, seus companheiros o carregaram nos ombros. Merecido. Ele é centroavante. Ele faz acontecer.