
Foram 49 minutos de entrevista do técnico Luiz Felipe Scolari na Granja Comary em tom melancólico, quase fúnebre, na presença de toda a comissão técnica, solidária ao seu líder no momento da desgraça. Não estava no roteiro pós-tragédia para a Alemanha mais uma rodada de explicações menos de 24 horas após o fiasco do Mineirão, mas o treinador entendeu que devia falar e deu a cara à tapa.
Munido de dados e estatísticas para se defender das críticas que ouviu após apanhar de 7 a 1 e ficar na história como comandante da pior derrota do futebol brasileiro em todos os tempos, Felipão só não conseguiu responder a uma pergunta.
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O que aconteceu nos seis minutos em que seu time tomou quatro gols?
- Se eu pudesse responder com consciência o que houve naqueles seis minutos eu diria. Mas, sinceramente, não sei. Tomamos o primeiro gol de bola parada em 20 jogos e depois veio a pane geral. Não tenho como explicar.
Ele voltou a pedir desculpas, mas trouxe dados para defender a tese de que foi um jogo atípico. Lembrou que a Seleção não chegava às semifinais desde 2002, com ele. Citou o retrospecto desde que reassumiu o cargo: 28 jogos, 19 vitórias, seis empates e três derrotas. Em jogos oficiais, uma derrota que vale para a eternidade: os 7 a 1 para Alemanha, em casa:
- A catástrofe aconteceu e ficará na história. Mas passou. A vida segue e não podemos denegrir os jogadores. Creio que 70% deles estarão na Rússia em 2018.
O treinador voltou a agradecer o carinho do torcedor que, segundo ele, foi elegante mesmo após a trágica derrota.
- Eu sei que hoje misturam-se os sentimentos, mas em primeiro lugar eu tenho que lembrar tudo aquilo que nós temos recebido, foi espetacular. O carinho que recebemos mesmo depois da derrota foi espetacular - afirmou.
Felipão recusou-se a falar sobre o seu futuro. Diz que só se pronunciará após a decisão do terceiro lugar, quando finalizar o seu compromisso com o presidente da CBF, José Maria Marin.
- Não vamos discutir isso antes do jogo de sábado. Só depois é que vai se definir alguma coisa, e essa definição passa pela direção da CBF, que vai dar uma posição sobre a importância do nosso trabalho - esclareceu.
Uma das partes mais quentes do contato com os jornalistas foi quando Felipão admitiu que usou a imprensa para esconder a escalação de Bernard dos alemães. Em vez de aproveitar o tempo do trabalho, já exíguo em razão da proximidade dos jogos, para treinar o tempo todo com Bernard no lugar de Neymar, ele preferiu usar 16 jogadores na véspera da semifinal. Até Jô entrou, a certa altura.
- Usei a imprensa? Usei. Me desculpem. Mas e a imprensa, nunca me usou? - rebateu Felipão, mostrando um papel no qual, segundo ele, estão discriminadas as vezes em que Bernard entrou no time sob o seu comando, e por isso ele já sabia o que fazer, embora não tenha sido esta a pergunta.
Felipão e Carlos Alberto Parreira ainda lembraram que o técnico Joachim Löw está há quase uma década no comando da Alemanha sem ganhar um título sequer, mas nem por isso foi demitido pela aposta na reformulação da base e nos frutos de longo prazo. Em contrapartida, frisaram que o atual grupo de trabalho assumiu há um ano e meio apenas.
- Essa equipe da Alemanha tem oito anos de preparação e nós tínhamos um e meio. Eu tinha seis jogadores que já disputaram uma Copa do Mundo - destacou.
Antes da decisão do terceiro lugar, acontecerá uma nova entrevista com Felipão na Granja Comary, na sexta-feira.
* ZH Esportes
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