O São José ressurgiu depois da parceria com a Renner, em 1996. Foi a alternativa que faltava para os torcedores da zona norte de Porto Alegre que queriam ir a jogos por preços baratos, com a tranquilidade de ser um clube familiar e de bairro.
Antes de voltar para a primeira divisão, porém, o São José penou. Batia na trave, perdia jogos imperdíveis, não conseguia contratar bons valores. Teve uma tentativa com o centroavante Careca, em 1999, mas foi um fato isolado.
A gurizada da zona norte, entretanto, não se importava muito com isso. Ir para um jogo do Zequinha era a chance de gremistas e colorados torcerem para o mesmo time, tomando cerveja barata, gritando impropérios contra os árbitros e...contra os próprios jogadores. Sim, a torcida do Zequinha era incrivelmente corneteira. Não perdoava o zagueiro tosco que só chutava para frente, o meia atacante que só driblava e não ia para a frente, o atacante que perdia gols. E a gurizada que ia ao Passo entrava na mesma onda. Era divertido xingar os jogadores do Zequinha sem ter medo de ser importunado por torcedores mais fanáticos. Era uma catarse. Todo mundo queria ganhar, mas a corneta era incondicional.
Até que um dia, o Zequinha teve uma chance real de subir para a primeira divisão. Precisava ganhar do Esportivo no Passo. Ingressos a R$ 1, R$ 2 e R$ 5, estádio completamente lotado. Na época, só tinha cobertura no pavilhão social, uma cerca de jardim separava as arquibancadas do campo e mal havia divisão de torcidas. O Passo superlotou, e a torcida do Zequinha confinou os torcedores da Espírito Esportivo - a então organizada do Esportivo - a um canto obscuro da arquibancada.
Tudo corria bem, mas o Esportivo era mais time, e a gurizada do Zequinha estava claramente nervosa. Não apenas com a necessidade de vencer o jogo, mas com a corneta implacável da gurizada, que ria dos lances errados, debochava dos dribles sem sucesso e vibrava com os gols perdidos.
Até que um menino do São José consegue um lance incrível: dribla dois jogadores na lateral e corre em direção ao gol. Sozinho. Sem ninguém para combatê-lo. Ele chega em frente ao goleiro e na hora de bater... chuta pra fora.
A corneta implacável não cessa. "Vai pra casa! Burro! Ruim! Lesma! Idiota! Piá de m...!". O menino, que vestia a camisa 11, é substituído. Lá pelas tantas, alguém chama a nossa atenção na arquibancada: era a MÃE do menino, em prantos, descendo os degraus da bancada e indo embora. Ela não suportou ver o filho ser xingado de tudo aquilo e decidiu se retirar. A torcida Espírito Esportivo acabou vibrando por último: o Esportivo venceu a partida.
O choro da mãe do camisa 11, porém, fez com que as cornetas cessassem até o final do jogo.