O obscuro caso de doping que resultou na suspensão de dois juniores do Grêmio, flagrados em exame no final do ano passado durante a Copa do Brasil sub-20, desperta novamente a atenção do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
Nesta semana, representantes da corte estiveram em Porto Alegre interrogando 18 pessoas, entre atletas e membros da comissão técnica, para apurar quem forneceu a substância proibida para Felipe Ferreira, 20 anos, e Matheus de Oliveira Silva, 19 anos. Os dois jogadores cumprem um ano de suspensão.
O inquérito para investigar responsáveis pelo doping foi aberto depois que o Grêmio, ao apresentar sua defesa, atribuiu a culpa ao ex-preparador físico da equipe, Diego Mello. Na versão enviada pelo clube ao STJD, Mello teria induzido uma série de atletas a ingerir methylhexaneamina, que atua no organismo retardando a sensação de fadiga.
Diego Mello sempre negou participação no caso: segundo ele, os suplementos oferecidos aos jogadores eram remetidos ao vestiário pelos departamentos médico e nutricional, sem qualquer envolvimento do preparador físico. O flagrante ocorreu em 28 de novembro de 2012, na partida em que o Vitória venceu o Grêmio por 1 a 0 na Copa do Brasil sub-20.
Zero Hora teve acesso a documentos anexados ao inquérito do STJD. Chamam a atenção, por exemplo, as contradições do goleiro Gustavo Pereira de Lima. Em uma declaração concedida aos advogados do Grêmio, Gustavo afirmou que Diego Mello, no dia do jogo, lhe mandou tomar "um negócio verde que ele deu num copo". O goleiro ainda disse que Mello "dava isso sempre para os outros atletas" e que o preparador físico lhe pediu "R$ 400 para comprar produtos" de reforço muscular.
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O curioso é que, semanas depois, Gustavo deu uma nova declaração, desta vez para o próprio Diego Mello. Nesta versão, apresentada pela defesa do preparador, o goleiro garantiu que, no depoimento anterior, havia sido "orientado pelo treinador Mabília (que comanda os juniores do Grêmio) a assinar um documento que seria apresentado pelo advogado do Grêmio, pois caso contrário - não assinasse - teria prejuízos profissionais no clube". Gustavo ainda afirmou que Diego Mello "jamais ministrou em nossos trabalhos quaisquer espécies de medicamento ou afins".
Na terça-feira, ouvido pelos representantes do STJD em Porto Alegre, o atleta voltou a sustentar a primeira declaração, concedida ao Grêmio, responsabilizando o preparador físico. Advogado de Diego Mello, Flávio Moura diz que a troca de versões ocorreu porque, após conceder sob pressão o primeiro depoimento, o goleiro - que é reserva no time - teria sido dispensado do Grêmio.
- Por isso, ele se sentiu à vontade para dizer a verdade sobre o Diego Mello. Enquanto tinha vínculo com o clube, ele pensava em seu futuro profissional. Foi pressionado pelos advogados do Grêmio a colocar a culpa no preparador físico. Quando o Grêmio soube que o garoto seria convocado pelo STJD para um novo depoimento, então o clube colocou o goleiro no time novamente. E ele, acuado, voltou a sustentar a primeira versão.
O advogado do Grêmio que atua no caso, Jorge Petersen, garante que Gustavo nunca foi afastado da equipe. Petersen se diz impedido de manifestar-se sobre o inquérito, mas sugere que o menino foi coagido a defender o preparador físico:
- As circunstâncias em que o goleiro deu aquela declaração ao Diego Mello são muito graves. E serão apuradas.
Zero Hora não conseguiu localizar o técnico Mabília.