
Acompanhada de seu advogado e do irmão, a torcedora Patricia Moreira, flagrada gritando a palavra macaco no jogo Grêmio x Santos, prestou depoimento sobre o caso de injúria racial contra o goleiro Aranha nesta quinta-feira. Em pouco mais de uma hora, a jovem, que chegou à 4ª Delegacia de Polícia chorando muito, confirmou ter usado a palavra macaco, mas disse que não tinha intenção de ofender o goleiro santista.
- Ela disse que foi no embalo da torcida, que costuma usar essa expressão nos cânticos - contou o delegado Cleber Ferreira, diretor da delegacia regional de Porto Alegre.
Mensagens de auditor do STJD que julgou Grêmio causam polêmica
Exclusão do Grêmio da Copa do Brasil repercute na imprensa internacional
Segundo o delegado, a jovem não usou o termo "arrependida" e nem manifestou intenção de pedir desculpas ao goleiro Aranha. Patrícia também relatou as ameaças sofridas após o episódio, que motivaram um reforço no esquema de segurança da polícia para sua chegada na delegacia. As declarações da jovem serão adicionadas ao inquérito, que podem resultar no indiciamento de Patrícia pelo crime de injúria racial.
Outro que depôs nesta quinta foi o taxista Filipe Guilhon, 27 anos, que trabalhou como organizador na Arena no jogo Grêmio x Santos. O organizador, que ficou no setor da Geral, ajudou os policiais a identificar algumas pessoas que aparecem em imagens feitas no estádio no dia da partida.
Segundo Filipe, um grupo pequeno de torcedores - três ou quatro, acredita - teria gritado diversos xingamentos racistas ao goleiro santista:
- Ouvi dizerem macaco, nego, sujo, mas não identifiquei de quem veio - disse o taxista, esclarecendo que o setor de onde partiram os gritos não era o mesmo onde estava Patrícia.
Filipe foi agredido por torcedores que, irritados, tentaram invadir o gramado. Ele disse não ter prestado queixa sobre as agressões, que teriam sido motivadas pela irritação de alguns gremistas com a postura do goleiro do Santos:
- Eles achavam que o goleiro estava fazendo cera.
Mais esclarecimentos
As investigações seguirão na sexta-feira, quando o torcedor Bruno Pisoni Garcia e o empresário Clairton S. dos Santos, dono do Bar do Ito, frequentado por integrantes da Geral, devem prestar esclarecimento. Eles foram intimados após o depoimento de Rodrigo Rysdyk, o Alemão, líder da organizada.
O depoimento de Patrícia, no entanto, é considerado o mais importante das investigações, cujo prazo para entrega do inquérito é de 30 dias.
Na saída da 4ª DP, Patrícia foi protegida pelo irmão, pelo chefe de investigações da 4ªDP e por policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil. Ela deixou o local sob gritos de protesto de jovens do movimento União de Negros pela Igualdade (unegro), que se manifestaram segurando uma faixa que dizia "Rebele-se contra o racismo".
Integrantes da Unegro protestaram em frente à delegacia
Foto: Ronaldo Bernardi

Depois do depoimento de Patrícia, o governador Tarso Genro se manifestou em sua conta do Twitter sobre a repercussão do caso:
VÍDEO: Confira a saída de Patrícia da delegacia após depoimento