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Foi na sala de casa, em um condomínio cercado por jardins na Zona Sul de Porto Alegre, que Camile Pasqualotto viu o destino de sua família mudar. A reunião do marido, Roger Machado, em meados de maio, com o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, selaria a volta do ex-jogador ao clube que o projetou. Desta vez, para trabalhar na casamata. O fim da temporada, que premiou a excelente campanha do time com a classificação à Libertadores de 2016, corroborou com uma certeza de Camile nestes 20 anos juntos: apesar dos títulos conquistados como jogador, Roger nasceu para ser técnico.
- Foi uma escolha que ele sempre trouxe. Chegou a ganhar uma pastinha dessas de tática no Japão. O Tite já tinha dado alguns cd's para ele sobre o assunto. Sabia que isso ia acontecer, foi algo natural. O talento dele e a persistência dos amigos que acabaram o ajudando a ficar no futebol - lembra a administradora de empresas.
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Do Roger treinador, Camile aponta a tranquilidade como maior mudança nessas duas décadas. A versão jogador sempre queria mais. "Não curtia muito as conquistas, tinha sempre de treinar para o dia seguinte", como bem lembra a esposa, ao fazer uma viagem rápida à história da vida dos dois.
- Quando decidiu por se aposentar, relaxou.
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Decisão que veio com a dor. E que Camile baixa o tom para falar. A escolha sobre a hora de parar veio cedo, aos 33 anos. Roger havia deixado o Fluminense em 2008. A proposta do United States casava com o desejo da família, que à época já tinha duas meninas pequenas, de morar fora e ter fluência no inglês. Camile ficou no Brasil para fazer os vistos enquanto Roger apresentava-se ao novo clube. As duas hérnias de disco fizeram com que, em um mês longe, Roger ligasse os 30 dias para casa chorando de dor. Havia chegado a hora de parar. Das dificuldades, esta não foi exceção.
Roger e Camile têm duas filhas. Foto: Arquivo Pessoal
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Antes, haviam chorado juntos, um no ombro do outro, em um metrô no Japão. O então lateral-esquerdo vestia as cores do Vissel Kobe logo após ter deixado o Grêmio. A ampliação do contrato para dois anos fez Roger e Camile decidirem que era a hora de ter o primeiro filho. Mas a chegada de um técnico europeu, em 2005, mudou os planos. Roger e todos os brasileiros do time tiveram seus contratos rescindidos. A estabilidade que o futuro apontava em terra japonesa terminou com ela grávida de sete meses e o Roger, demitido. Às pressas, voltaram a Porto Alegre.
Da Ásia, ficou o carinho, sem qualquer tipo de decepção. A cultura oriental veio na bagagem dos dois, inclusive, no que diz respeito à alimentação e a valorização da família. Tanto que a prioridade da casa é a educação das pequenas. Roger e Camile participam juntos das reuniões e atividades da escola, na zona sul de Porto Alegre. Um pouco diferente do ensino tradicional, o colégio incentiva que os pais sejam parceiros da instituição.
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O técnico do Grêmio, quando preciso, corta a grama, lixa mobília e prepara o local onde as filhas aprendem. Roger, inclusive, chegou a se aperfeiçoar em uma das tarefas. Antes de ser convidado a assumir o comando gremista, curtia o fim do contrato com o Novo Hamburgo com aulas de marcenaria.
Se apaixonou, e guarda como lembrança um banquinho de madeira feito por ele. Aliás, o verbo guardar tem sido um dos desafios na vida de Camile nesses 20 anos:
- Se depender do Roger, ele guarda tudo. Para se ter uma ideia, vou achando desenhos de campos com esquemas táticos em guardanapos pela casa - ri a esposa, que às vezes não tem coragem de jogar fora e deixa tudo na sala destinada ao trabalho do marido.
Foto: Arquivo Pessoal
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No espaço, uma espécie de memorial, com direito a homenagem ao Olímpico. Roger tem quatro cadeiras do estádio onde levantou as taças da Copa do Brasil em 1994 e Brasileiro de 1996. Uma para cada integrante da família. Em um cabide, cerca de 300 camisetas de outros clubes. Todas trocadas com Roger em algum momento da carreira.
Nos armários, cartas e cadernos com declarações de fãs apaixonadas. Tem rolos com metros de "casa comigo" e "Roger, eu te amo" enviados antes da aposentadoria dos gramados, hoje encarado entre risadas por Camile:
- É estranho alguém mandando isso para o teu marido, né? Ainda mais naquela época, que eu não sabia se daríamos certo. Mas hoje sou eu quem tem pena de jogar fora - conta.
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Roger versão paizão
Roger, assim como costuma ser com o grupo gremista, é um paizão, garante Camile. Desde antes das duas filhas nascerem. Aliás, por uma decisão da esposa, os partos de Julia, hoje com 10 anos, e Gabriela, sete anos, foram humanizados - que incentiva o nascimento natural e menos "medicalizado" -, em casa. Ambos tiveram a presença do marido no momento dos nascimentos.
- Nós somos assim, eu embarco nas coisas dele. E ele, nas minhas - conta Camile, garantindo que Roger segurou a sua mão em todo o procedimento.
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Apesar da rotina pesada do futebol, a família levanta às 6h para que ao menos uma refeição diária seja feita junta. É o técnico quem prepara o cardápio do café da manhã, com direito a frutas picadas, granola e ovos mexidos, e leva as meninas para escola. Momento que ainda é tido com uma certa estranheza para as pequenas. Isso porque elas têm dificuldade de entender o sucesso do pai. Surpreendem-se quando veem os coleguinhas largarem as atividades para ganhar um abraço do pai delas:
- Não vou lavar a minha mão porque o Roger me tocou - disse um amigo das gurias, em uma das vezes em que o técnico do Grêmio foi buscar as filhas, deixando as filhas pasmas.
- Elas ficaram impressionadas, não vivenciaram isso (quando Roger era jogador). É tudo muito novo na profissão do pai - conta Camile.
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Foto: Fernando Gomes
A novidade, no entanto, é apenas para as filhas. Camile aponta que o marido não se deslumbrou com os holofotes. Trabalha com a mesma seriedade dos clubes anteriores, quando um lugar na Libertadores parecia distante. O acerto com o Grêmio veio antes do esperado. Embora sonhasse em voltar para o clube que o projetou, achou que passaria por outras experiências antes de assumir o posto. Não que não se sentisse preparado. Pelo contrário. Apenas foi surpreendido pela confiança demonstrada logo após ter treinado apenas dois clubes gaúchos.

Do ano especial, de muitas conquistas, resta apenas uma missão para Roger: fazer nevar no Canadá. Foi o lugar escolhido pela família para passar as férias e realizar o sonho das duas filhas, em ver de perto os flocos de gelo. Uma incumbência, quem sabe, mais complicada do que tirar o time das últimas posições do Brasileirão, e levar à terceira colocação, com direito a vaga na Libertadores.
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